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terça-feira, 28 de maio de 2013

Conselho do Centro Brasileiro de Design Industrial

 Centro Brasileiro de Design Industrial - CBDI está dando o passo final de sua formalização com a posse do seu Conselho Técnico. A instituição pretende concentrar todos os esforços nas ações para o desenvolvimento e fortalecimento da cadeia produtiva do design brasileiro. 

A partir do dia 27.05, a equipe do CBDI estará exclusivamente focada em buscar resultados  eficazes e de maior abrangência.

O modelo proposto se difere das outras associações de classe uma vez que terá em seu quadro de associados não somente os profissionais, escritórios e estudantes da area mas também as indústrias, comércio e os diversos parceiros relacionados (escolas, midias, entidades governamentais e não governamentais etc), enfim: pretende ser uma associação voltada para toda a cadeia produtiva do design industrial, atuando em suas mais variadas frentes.

O principal objetivo é ganhar representatividade junto aos orgãos de governo, grandes empresas e público em geral de forma a demonstrar a capacidade de contribuição do design para a inovação, o crescimento sustentado e o incremento na qualidade de vida sendo metodologia e  ferramenta de diferenciação de produtos, serviços e políticas públicas. Além disso, pretente também divulgar e promover o design e o produto brasileiros tanto nacionalmente quanto internacionalmente.


Diretor Geral
Daniel Kraichete

Diretor Administrativo
Roberto Hercowitz – Em2 Design 

Diretor Cultural
Alessandra Clark – Mameluca Design 

Diretor Financeiro
Bernardo Ferracioli - MateriaBrasil

Presidente do conselho Técnico
Guto Indio da Costa - 

Vice-Presidente do Conselho Técnico
Ricardo Gutfreund - Lumini

Conselho Fiscal 
Leonardo Lattavo - Lattoog
Celso Santos - Rio 21 Design 
Joana Neves – Coordenadora da Economia Criativa da Secretaria de Cultura do Estado do RJ

O Conselho Técnico:

Relações com os Designers  - Levi Girardi – Questto/Nó 
Relações com o Comércio – Sérgio Buschpigel - Dpot
Relações com a Indústria – Mário Fioretti – Whirlpool 
Relações com a Academia – Dijon de Moraes 
Relações com a Imprensa – Maria Helena Estrada 
Relações Internacionais – Givanni Cutolo – ADI italia – Fondazione Compasso D'oro
Relações Institucionais – Cyntia Malaguti 

Extraído de : Conselho Técnico do Centro Brasileiro de Design Industrial toma posse no dia 27 de maio

ATUALIZADO PARA 2014:

VEJA DIAGNOSTICO DO DESIGN BRASILEIRO

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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Consumismo, obsolescência, design e o mito da sustentabilidade.

Algumas estatísticas estipulam que se todas as pessoas do mundo consumissem como a classe média dos países desenvolvidos, precisaríamos de, se não me falha a memória, mais dez planetas Terra para prover os recursos e mais cinco só para jogar o lixo.

Se o ideal atual de uma sociedade global igualitária é que todos, sem exceção, possam ter um estilo de vida confortável mediano, que seria equiparável ao vivido pela classe média de tais países desenvolvidos, tal feito já seria impossível, como disse no parágrafo acima. Logo, para que o padrão contemporâneo de qualidade de vida exista para poucos, tem que existir pobreza e miséria para muitos, pois é impossível que todos gozem deste privilégio.

Como então seria possível que todos que vivem neste planeta tenham uma boa qualidade de vida, que seja pelo menos próxima do ideal de sustentabilidade e igualidade social? Ao meu ver existem, resumidamente, duas maneiras conectadas diretamente ao design:

Reduzir dramática e radicalmente o consumismo e criar bens de consumo que visem genuinamente a qualidade e durabilidade.

Qual é o papel do designer nisso tudo? Bom, o design é parte fundamental nas fundações do consumismo, estando envolvido em todos os processos da longa cadeia de desenvolvimento de qualquer bem de consumo, desde o projeto inicial, o planejamento, o branding até o marketing publicitário.

Fundamentalmente, o design é a peça principal deste processo; É ele que desperta o desejo desenfreado de consumo nas pessoas, juntamente com a manipulação propagandista que, ao longo dos anos, vem condicionando as pessoas a pensar que a posse de coisas é a chave da felicidade.

Enquanto isso, estamos sempre ouvindo falar da tal sustentabilidade. "Isso ou aquilo é sustentável", "A sustentabilidade tem que vir em primeiro lugar", dizem os professores de design pelo mundo afora. Não sei se dizem isso por ignorância, cegueira ou para tentar vender seu peixe; Só sei que, com absoluta certeza, estão totalmente equivocados.

A tal sustentabilidade não existe. É totalmente utópico pensar-se o contrário dentro do contexto da sociedade contemporânea. Nossa própria existência, dentro do atual quadro social e populacional, é insustentável; Nossos próprios inevitáveis dejetos fisiológicos estão afogando a sociedade em esgoto, basta observar o estado deplorável do Rio Tietê, em São Paulo, ou o Rio das Velhas, em Minas Gerais.

Em todo caso, em primeiro lugar, como designers, devemos nos questionar o quanto é sustentável, por exemplo, criar mais uma cadeira ou mesa, e despejar esse produto num oceano de similares entre os quais, de maneira geral, não existe grande diferenciação ergonômica ou funcional. Uma cadeira de um Philippe Starck da vida, usando critérios de análise objetivos, é realmente melhor de se sentar do que uma cadeira comum de plástico, que já atente a todos os critérios ergonômicos? Por incrível que pareça, muitas vezes é até pior. Quem aqui já não sofreu tentando permanecer sentado por mais de cinco minutos em uma cadeira "assinada" caríssima? 

Então, essencialmente, quando o designer deságua mais um produto no mercado, que se diferencia dos demais somente por algum fator estético, que por mais que seja importante psicologicamente, não trás nenhum benefício ou inovação tangível ao ser humano, está criando lixo. É isso mesmo; O design, como é abordado atualmente, cria lixo. Não se iludam pensando que seu novo produto está trazendo benefícios à sociedade pois, na grande maioria dos casos, está fazendo justamente o contrário.

A obsolescência programada é uma das principais  peças deste problema; É a filosofia mercadológica da qual o designer raramente consegue escapar, pelo menos se quiser ganhar dinheiro o suficiente para levar uma vida confortável.

Existem dois tipos de obsolescência programada; O primeiro é aquele em que os produtos são projetados para estragar fisicamente depois de um tempo pré-determinado de uso, obrigando o usuário a comprar um similar novamente. Alguns equipamentos eletrônicos, como impressoras, possuem chips internos programados para queimar depois de um determinado número de impressões, inutilizando o aparelho por completo.

O segundo é aquele em que o usuário, mesmo tendo um produto perfeitamente funcional em mãos, através da manipulação social e propaganda, sente-se socialmente inferior por não ter o modelo atual do mesmo, levando-o a descartar um produto em perfeito estado de funcionamento para obter um modelo atualizado, que muitas vezes oferece apenas alguns incrementos de design a mais em relação ao seu predecessor e nenhum incremento adicional significante em termos de função. Um grande exemplo são os produtos "i" da famosa Apple. A pessoa tem um iPhone X perfeitamente funcional, mas sente um desejo incontrolável de comprar um iPhone 2X no momento do seu lançamento, mesmo que ele não apresente  modificações positivas reais; Arredonda-se uma quina aqui, muda-se o tamanho da tela em alguns milímetros ali e pronto, está lançado o "novo" iPhone totalmente "inovador" e absurdamente tentador.

Não tem como negar que existe alguma coisa muito errada nisso tudo, certo? O documentário "The Light Bulb Conspiracy" mostra como tudo começou.

Logo quando a lâmpada incandescente foi inventada e começou a ser comercializada em massa, cada uma durava cerca de 100.000 horas. No entanto, por ser um produto tão bom e duradouro, não estava gerando lucratividade para a indústria, então, todos os fabricantes do mundo se reuniram e, depois de muito esforço e estudos, determinaram que todas as lâmpadas comercializadas não poderiam durar mais do que 1.000 horas. De fato, uma destas primeiras lâmpadas está funcionando 24 horas por dia desde que foi inventada, em algum museu o qual não me lembro o nome, sem apresentar nenhum problema. 

Imaginem o prejuízo que tal tratado, consagrado entre quatro paredes, trouxe ao mundo, em termos de desperdício de recursos, durante todo este período; Simplesmente não é quantificável.

Outro caso clássico é o da meia-calça feminina que, logo quando foi inventada, era tão resistente que propagandas eram feitas com elas sendo usadas para rebocar caminhões, sem desfiar um fio. Como a lâmpada, os engenheiros foram ordenados a encontrar uma maneira de torná-las mais frágeis, em prol da lucratividade da indústria.

Meu ponto é: Onde está a ética nisso tudo? Qual a razão pela qual, ao invés de criar o melhor produto possível e buscar a lucratividade usando a criatividade para criar um sucessor ainda melhor, rebaixar um excelente produto à mediocridade para posteriormente criar produtos um pouco menos medíocres?

Imaginem como a tecnologia de iluminação estaria hoje, se ao invés de deliberadamente terem piorado as primeiras lâmpadas, estivessem trabalhado duro para torná-las ainda melhores?

E como o design, e o designer, participam nisso tudo? Fato é que os designers de hoje em dia, já ficam extremamente felizes por ter um de seus produtos introduzido no mercado, e não ligam a mínima sobre como tal produto foi produzido e como ele está contribuindo para a evolução da sociedade e a construção de um mercado um pouco mais saudável. Se uma empresa internacional resolve produzir, por exemplo, uma de suas luminárias na China, usando trabalho escravo dentro de uma fábrica com zero controle de emissão de poluentes, você faria alguma oposição?

E se fosse convidado a trabalhar no setor de design da Apple? Você aceitaria o emprego, mesmo sabendo que eles poderiam criar um super aparelho de celular que demoraria anos para ser objetivamente superado, mas preferem criar novos aparelhos com incrementações placebo, em prol da ganância financeira?

E se fosse convidado a trabalhar no setor de design da Epson ou Canon, desenvolvendo belíssimos produtos que são criminosamente programados para estragar, forçando o consumidor a comprar um produto novo periodicamente? Você aceitaria ou faria alguma objeção?

E como consumidor? Quando você comprou seu iPad, você se preocupou com o fato de que as condições de trabalho da fábrica que o produz são tão precárias e abusivas, que instalaram redes de proteção contra suicídio no campus da empresa, como forma paliativa de frear o grande número de funcionários que preferem se matar do que suportar mais um dia vivendo naquelas condições, tudo isso pra você ficar passando seus dedinhos naquela tela o dia inteiro?

É meus amigos, a coisa está feia para o nosso lado; O cerco está se fechando e está se tornando cada vez mais difícil usar a criatividade para deixar nossa marquinha positiva aqui neste planeta.

Se houvesse uma espécie de juramento Hipocrático para os formandos em design, como existe nos cursos de medicina, provavelmente todos nós já o haveríamos quebrado.

Resumindo; Já passou da hora do ensino de design e dos próprios designers repensarem o nosso papel na sociedade, começando a agir de acordo.

Modelo de sustentabilidade mesmo, só existiu nas sociedades indígenas; Na nossa, sustentabilidade não passa de um mecanismo de propaganda ilusório e utópico, que continuará sendo assim enquanto não criarmos uma resolução ética definitiva para a nossa função, para pelo menos tentar nos aproximar do ideal.

Temos que descartar o ridículo senso de "glamour" que permeia nosso ciclo de personalidades excêntricas vestidas como pop-stars, e começar a ser realistas. Design é uma profissão como qualquer outra, cuja a justificativa covarde de que "estou só fazendo o meu trabalho" pode até enganar os bobos, mas não passa de uma desculpa chula para tentar diminuir a significância de que estamos usando nossa criatividade para alimentar uma indústria ultrapassada, irracional e destrutiva.

Pense nisso tudo quando for criar seu próximo produto. Se, por ventura, constatar que o mesmo não trará nenhum benefício à sociedade, tratando-se de somente mais um belíssimo pedaço de lixo, talvez seja melhor deixá-lo no mundo intangível da imaginação, para amadurecer mais um pouco.

E por favor; Não me venham com esse blablabla de sustentabilidade.




Mentira e Design

* texto originalmente publicado no Filosofia do Design (06/10/2011).


Desde pequenos nós escutamos, em diversas ocasiões, o conselho “seja você mesmo”. É uma tarefa difícil, pois ela pressupõe que já sabemos o que somos. Partindo do mesmo pressuposto, os designers procuram projetar algo “diferente” que nos permita continuar sendo aquilo que (achamos que) somos: alguém diferente dos outros.

Mas tentar “ser diferente” significa, no fundo, reivindicar por um direito que supostamente todos nós temos: respeito, dignidade, igualdade, etc. Todo mundo tem o direito de ser diferente. Então podemos reconhecer aqui o seguinte paradoxo: a igualdade é o fetiche de quem quer ser diferente. Ou: ser você mesmo implica ser igual aos outros. Acontece que “ser você mesmo” pode se tornar apenas um eufemismo para “zona de conforto” na medida em que nos recusamos a mudar quem somos, como uma tentativa de fazer uma mentira ser verdade.

No entanto, sinceramente não vejo nada de errado nisso. Errado é fingir que isso não acontece. Fingir que podemos deixar de mentir sobre nós mesmos. Se você acha que não mente sobre si mesmo(a), você tende a procurar coisas e pessoas tão sinceras quanto você. Ou seja, algo ou alguém que confirme a sua verdade, que compartilhe de seus medos, que mantenha seu mundo em segurança.

Claro que, assim como a maioria dos relacionamentos, o Design não escapa deste fingimento. Mas o que aconteceria se, ao invés de continuarmos fingindo, nós assumíssemos a mentira que somos? Reconheceríamos que a mentira pode nos oferecer certa liberdade: ela nos permite negociar o que somos, nossas verdades, nossos preconceitos, nossos ideais.

Esta negociação pode ser movida pela conveniência ou aceitação social – ou pela garantia da comida na mesa –, mas nada impede que a estratégia seja outra: a negociação em si. Permitam-me um exemplo. O filme Joana d’Arc de Luc Besson retrata a determinação e fé inabaláveis de Joana d’Arc em sua “missão divina”. Mas como a mensageira de Deus não teria mais serventia após a Guerra dos Cem Anos, ela é capturada pelos ingleses e condenada à fogueira por heresia. Nesta parte, Joana d’Arc (Milla Jovovich) começa a conversar com um senhor imaginário (Dustin Hoffman) que a questiona sobre sua suposta missão divina.

Em um primeiro momento, Joana reconhece que sua vaidade heroica passou por cima da vontade de Deus. Mas quando ela assina uma carta de retratação, aquele senhor imaginário lhe questiona: onde está sua fé agora? Joana então percebe que não havia missão nenhuma, que ela não era “enviada por Deus”, e se arrepende de tamanha blasfêmia. “Agora você pode ir para a fogueira”, o senhor responde, “pois finalmente você cumpriu com sua missão”.

Embora este diálogo esteja mais ligado à ideia de redenção, meu ponto é que não podemos negociar alguma coisa sem a possibilidade de perder esta coisa – ou seja, sem a possibilidade desta coisa ser uma mentira. Por mais que a mentira nos deixe desconfortáveis, inseguros, perdidos, uma pessoa que procura a verdade o tempo inteiro não negocia coisa alguma. É preciso assumir certas mentiras para que determinadas “verdades” tenham mais valor.

Obviamente não estou dizendo que deveríamos mentir mais – assumir é diferente de incitar. Mas pensando em Design e especialmente em processos criativos, podemos reconhecer que a mentira é capaz de atribuir novas verdades aos projetos, retirando-os das regras e enquadramentos que lhes são ordinariamente impostos.

As pessoas não querem apenas um bom carro, elas querem um carro que escale uma montanha, mesmo sabendo que é mentira. Neste sentido, mentir não significa necessariamente enganar as pessoas – quem se engana é o designer que tenta fazer isso. Aliás, o que me parece mais difícil no Design, e ao mesmo tempo mais belo, é justamente conseguir revelar a mentira das pessoas que fingem não mentir.

Significa tirar o “seja você mesmo” da zona de conforto e negociar novos modos de pensar e de sentir. Claro que isso é pedir demais (aos designers e às pessoas), pois geralmente é mais fácil e desejável continuar “empurrando com a barriga”. Mas a sutileza (o mais difícil e mais belo) está na intensidade que esta mentira verdadeira pode proporcionar: quando ser você mesmo é tão difícil e tão belo quanto deixar de ser você mesmo.

“Que importa, afinal? As mentiras não conduzem finalmente ao caminho da verdade? E minhas histórias, verdadeiras ou falsas, não tendem todas para o mesmo fim, não têm o mesmo sentido? Que importa, então, que sejam verdadeiras ou falsas se, em ambos os casos, são representativas do que fui e do que sou? Pode-se, às vezes, ver mais claro em quem mente do que em quem fala a verdade. A verdade, como a luz, cega. A mentira, ao contrário, é um belo crepúsculo, que valoriza cada objeto” – Albert Camus em A queda (Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 90-91).



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