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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Victor Papanek: de maldito à ídolo do século 21

De maldito a ídolo: conheça a trajetória do designer norte - americano Victor Papanek


De Alice Rawsthorn - (Artigo extraido do UOL)


Como você se sentiria se tivesse escrito um livro que, em suas próprias palavras, fosse "ridicularizado ou barbaramente agredido" pelos seus colegas?
Ou se você fosse forçado a se afastar de uma entidade profissional, que, em seguida, ameaçasse boicotar uma exposição no Centro Pompidou, em Paris, se seu trabalho fosse incluído?

Todas esses afrontas -e mais- foram infligidas ao designer Victor Papanek depois da publicação do seu livro de 1971 "Design for the Real World".

Por quê?


Há uma pista na frase de abertura:

"Há profissões mais prejudiciais do que o design industrial, mas são poucas".

Papanek saiu acusando seus colegas designers pela produção de baixa qualidade, trabalho estilizado que desperdiçou recursos naturais, agravou a crise ambiental e ignorou suas responsabilidades sociais e morais. Doeu! Quatro anos mais tarde, ele foi descrito pela revista “Design” como uma pessoa “de quem seus próprios contemporâneos não gostava, e até desprezavam."

No entanto, Papanek riu por último. Em 1985 em seu prefácio à segunda edição de "Design for the Real World" (no Brasil, “Arquitetura e Design -Ecologia e Ética), ele observou com orgulho que a primeira edição havia sido traduzida para mais de 20 línguas e havia se tornado "o livro sobre design mais lido do mundo".

Ele morreu em 1998, mas 40 anos depois da primeira publicação, seu livro ainda é impresso e continua muito influente -e Papanek é louvado como um dos pioneiros do design sustentável e humanitário. Como diz Zoë Ryan, presidente da área de design e arquitetura no Art Institute of Chicago, "sua abordagem parece mais relevante do que nunca em tempos desafiadores como os de hoje."

Obra influente


Papanek foi até mesmo abraçado pelas autoridades do design. Seus arquivos foram recentemente adquiridos pela Universidade de Artes Aplicadas de Viena, que vai inaugurar a Fundação J. Victor Papanek em novembro, com um simpósio sobre o seu legado. A fundação também está colaborando com o Museu de Artes e Design, em Nova York, para apresentar o prêmio J. Victor Papanek Social Design.

Por que um livro de 40 anos se mostrou tão duradouro? Papanek escreveu vários outros livros sobre temas semelhantes, mas nenhum teve o impacto de "Design for the Real World". De fato, nenhuma obra sobre design teve tamanha influência.

"Design for the Real World" é, por qualquer definição, uma boa leitura, escrita com entusiasmo, convicção e autoridade. O arquiteto americano William McDonough, que o leu quando ainda um estudante de arte, em 1971, considera o livro como algo “muito simples, no entanto, curiosamente sofisticado: humanista, inteligente, sagaz e divertido."

O texto de Papanek foi criado com base em sua bagagem. Nascido na "Viena Vermelha", em 1927, quando a capital austríaca era governada por radicais social-democratas, ele teve uma educação particular na Inglaterra antes de se estabelecer nos Estados Unidos, em 1939.

"Falsos desejos"


Frequentou o curso noturno de arquitetura e design na Cooper Union, em Nova York, no final dos anos 40, e estudou na escola de arquitetura dirigida por seu herói, Frank Lloyd Wright, em Taliesin West, no Arizona. Mais tarde, Papanek se matriculou em um curso de engenharia criativa no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Ele tentou a sorte com design comercial, mas detestou a experiência. "Design for the Real World" inclui uma dolorosa descrição de "meu primeiro, e espero que o meu último, encontro com ... o design cosmético" -um rádio portátil. Papanek buscou então uma carreira em pesquisa e ensino de design, principalmente projetos antropológicos realizados enquanto vivia entre Navajos, Inuits e outras comunidades indígenas.

No início dos anos 1960 ele já havia criado muitos dos princípios articulados em "Design for the Real World". Numa palestra em 1964, na Rhode Island School of Design, Papanek repudiou o design comercial como sendo "a perversão de uma grande ferramenta", e convocou os designers a satisfazer necessidades genuínas ao invés de "falsos desejos”.


Mais críticas do que propostas


Começou a escrever "Design for the Real World" no ano anterior. O texto final expressa sua visão sobre o design, acompanhado por uma variedade estonteante de referências, inclusive textos de Hermann Hesse e Arthur Koestler sobre as habitações da Drop City, uma comuna dos anos 1960 no Colorado, e uma fazenda californiana de porcos, cuja energia era gerada pelo estrume dos seus mil suínos.

"Design for the Real World" estava longe de ser impecável. Como muitos dissidentes, Papanek é mais forte criticando o status quo do que proporcionando alternativas (a fazenda de suínos energizada por esterco e o rádio que ele projetou a partir de lata cera de parafina e esterco de vaca pensando nos países em desenvolvimento eram exceções).

Ele próprio admitiu, no prefácio da segunda edição, que seu relato original sobre a contribuição que os designers ocidentais poderiam fazer para os países em desenvolvimento tinha sido "condescendente", subestimando o quanto eles poderiam aprender ali. Mas ele defendeu suas análises sobre a crise ambiental e as fraquezas da indústria de produtos manufaturados.

Abordagem inclusiva


Tais problemas vêm piorando desde então, e a visão corrigida de Papanek sobre o potencial do design para as economias em desenvolvimento é hoje amplamente aceita. As redes voluntárias, como o Project H e Architecture for Humanity permitiu que milhares de designers participassem de tais projetos. As mesmas idéias pelas quais Papanek já foi ridicularizado parecem cada vez mais prescientes.

O mesmo pode ser dito em relação a sua capacidade de apreciar as dimensões morais e sensuais do design. O designer suíço Yves Behar conheceu Papanek quando era estudante, na década de 1990, quando o veterano radical estava obcecado em repensar as viagens aéreas. "Ele imaginava grandes e confortáveis aviões ecológicos, econômicos e muito divertidos de se estar, com piscinas e academias de ginástica em pleno ar", disse Behar.

Papanek não foi o primeiro designer a defender uma abordagem inclusiva e sustentável para o design -R. Buckminster Fuller fez o mesmo nos anos de 1920- mas sua visão era surpreendentemente coerente. Seus sucessores passaram pelas tarefas mais difíceis e, em geral, mais maçantes, de explicar a logística de suas implementações. McDonough e o químico alemão Michael Braungart se prestaram ao desafio no livro "Cradle to Cradle", mas é um raro exemplo de sucesso, e "Design for the Real World" ainda brilha como uma inspiração para os jovens designers.

"Foi um dos primeiros textos que li e que surgia com tanta urgência e com comentários tão crus e corajosos", disse Emily Pilloton, co-fundadora do Project H. "Eu tenho a maior consideração por Papanek, não só como grande pensador, mas como agitador."



Siga meu instagram de Design e conheça o meu novo livro "Design e Inovação para um Mundo Novo" onde dedico um capitulo inteiro ao Design Social e a Victor Papanek.

Junho 2021


terça-feira, 7 de junho de 2011

O Design como pensamento estratégico

Como designer e analista de sustentabilidade sempre recebo a mesma pergunta vinda dos empresários de diferentes setores:

“Para que eu preciso de um designer se a minha empresa não projeta, nem desenvolve um produto físico? Eu trabalho com serviços, com o intangível!”

Como já me cansei de responder essa questão uma e outra vez, melhor escrever este artigo e quando alguém no futuro me perguntar, direcionarei a pessoa para este link!

Caro empresário brasileiro, o design acima de tudo, aporta para a sua empresa um “pensamento estratégico" – criativo, de inovação, independente se ela desenvolve produtos físicos ou não.
Esse pensamento estratégico gera novas, e aperfeiçoa as já existentes, vantagens competitivas da empresa no mercado e frente a seus concorrentes, na forma de novos modelos de negócios, novos serviços – experiências – percepções de sua empresa para o consumidor e etc.

Um exemplo conhecido é a Apple. Steve Jobs sempre foi um “design thinker” de primeira classe, ele sempre entendeu perfeitamente o valor e a aplicação do design como um pensamento estratégico – inovador para gerar inovação à todos os níveis possíveis, desde processos de engenharia (tangível) até criação de novos estilos de vida (intangível)!
Sem o design, desde essa perspectiva, dificilmente produtos com Ipad, Iphone, e serviços derivados deles e ultimamente o Icloud teriam surgido no mercado, criando infinitos novos mercados e conservando mercados já existentes

Esta qualidade criativa e inovadora é algo natural, inerente ao designer, pela sua mesma formação profissional, leva-o a ter sempre uma visão e abordagem sistêmica sustentável e a capacidade de entender e integrar as diferentes disciplinas dentro de uma empresa.

O design é sempre um catalisador de inovações, a qualquer nível que seja aplicado!

 O design é vital para que a empresa seja sustentável e inovadora em todas as suas dimensões (ambiental, social e econômica) funcionando também como um elemento unificador, criador e consolidador da cultura sustentável da empresa, em todos os níveis.
Frustrante verificar que comitês de sustentabilidade nas empresas, prêmios às melhores empresas sustentáveis, e até empresas certificadoras, não tem nenhum designer, afinal elas não produzem nenhum produto físico!

Mas tem que decidir o que é estratégico, sustentável e inovador!

Isso porque não entendem ou não conhecem o beneficio do "design como pensamento estratégico em um contexto global corporativo”, e ainda acreditam muito erroneamente que um bom engenheiro especializado em gestão ambiental, processos, junto com administradores e financeiros “verdes” será mais do que suficiente para gerar novas dinâmicas sustentáveis internas e externas.
Sem o designer e a sua visão, as dinâmicas sustentáveis da empresa serão limitadas, conservadoras e de curto prazo.
Ela será sustentável sem o designer, importante dizer, mas não terá todo o seu potencial mapeado, conhecido e explorado.

É hora do empresário brasileiro deixar para atrás essa visão obsoleta de que o design somente é necessário caso a empresa desenvolva produtos físicos.

O design não existe mais apenas como um elemento físico – industrial para manufatura.
Caso ele queira realmente ser sustentável e inovador, precisará sempre do design como pensamento para a inovação e sustentabilidade!

Já esta na hora do design ser percebido como um pensamento estratégico – criativo – inovador vital para a sua empresa, em todos os sentidos.
Ele deve ter o seu respectivo lugar de destaque na busca da sustentabilidade empresarial brasileira neste século 21.

Afinal, visões conservadoras e quadradas, em qualquer âmbito da ação humana, não podem gerar sustentabilidade criativa e muito menos inovação!

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