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sábado, 30 de abril de 2011

Simples para aperfeiçoar a realidade

(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)

Penso que o designer deve ser como um cirurgião da matéria, operando e modificando a natureza com extremo rigor, sobriedade, lucidez e consciência. Devemos designar de forma coerente.

Sei que no dia-a-dia profissional da maioria as coisas não acontecem desta forma. No entanto, através deste texto, gostaria de convidar os leitores a refletirem e pensarem um pouco em como as coisas poderiam ser.

Na página “design” do nosso site, são apresentadas cinco resposta para a única pergunta: “Simples para quê?”. Hoje, explorarei a primeira das réplicas: “Para aperfeiçoar a realidade, intervindo de forma precisa em cada detalhe”.

Concordo bastante com a célebre frase de um dos principais arquitetos do século passado, Mies van der Rohe: “Deus está nos detalhes”. Um dos “dez princípios do bom design” de Dieter Rams, ex-diretor de design da Braun, afirma que: “Bom design é minucioso, até o último detalhe”. Massimo Vignelli, designer muito ligado à tradição modernista, mostra que:“A atenção aos detalhes requer disciplina. Não há espaço para desleixo, para o descuido, para a procrastinação. Cada detalhe é importante porque o resultado final é a soma de todos os detalhes envolvidos no processo criativo, não importa o que estamos fazendo. Não há hierarquias, quando se trata de qualidade. Qualidade existe ou não existe, e se não estiver lá, perdemos nosso tempo. (…) Design sem disciplina é anarquia, um exercício de irresponsabilidade.”

Ainda, complementando o discurso de Vignelli, diria que “se a qualidade não estiver lá”, não só perdemos nosso tempo, mas também energia e recursos que dificilmente serão revertidos.

Devemos assumir uma postura responsável e ao mesmo tempo humilde em relação ao ato de projetar. Isso só será possível quando realmente entendermos nossa missão, enxergando o quanto somos pequenos em relação a todo um planeta que surgiu muito tempo antes de nós e que ainda durará “ad infinitum”.

Modificar o “statu quo” é o que dá sentido a nossa profissão. Sempre existirão problemas a serem resolvidos, aos menos enquanto continuarmos humanos. Pagar suas contas no fim do mês jamais deve ser o principal problema a ser resolvido pelo designer. É necessário um diário exercício de disciplina para nos mantermos fieis e alinhados ao nosso chamado: aperfeiçoar a realidade.

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Rafael Gatti é idealizador do projeto Design Simples.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Estadão: Classe C investe em design e decoração

Achei essa matéria interessante da Valéria França - O Estado de S.Paulo do dia 24/04/11
Depois do conforto garantido - com os financiamentos, a TV de plasma já está na sala e a geladeira com freezer na cozinha -, a classe C investe agora na decoração.

Surgem revistas, guias, blogs e até decoradores que começam a especializar-se em transformar os ambientes com custo reduzido.
Andre Lessa/AE
Andre Lessa/AE
Um cliente difícil de agradar. 'Na minha primeira experiência, o casal não aceitava nada do que eu oferecia. E ninguém saiu satisfeito', diz Saulo Szabó (à esq.)

Como aconteceu no universo da moda, quando os fashionistas passaram a criar coleções para lojas populares, agora nasce o fast design. Arquitetos conhecidos por projetos luxuosos da Casa Cor fecham parcerias com magazines. É o caso de Marcelo Rosenbaum, que assina neste mês um guia de decoração para as Pernambucanas, rede com 272 lojas no País. Em 27 páginas, ele dá ideias de ambientes com objetos da loja, sempre destacando o útil e o acessível.
O escritório do arquiteto desenvolveu móveis e acessórios para a classe C. A linha Pindorama de toalhas de mesa de plástico, um clássico do churrasco de domingo, ganhou estampas descoladas. O metro custa R$ 7. Inspirado nas sementes brasileiras, um aparelho de jantar com 20 peças sai por R$ 225.
Seguindo os mesmos moldes, a Casas Bahia montou um blog de decoração, em teste, que conta com a assessoria de uma equipe de profissionais da área. A vantagem é que a ferramenta vai possibilitar tirar dúvidas dos consumidores, muitas surgidas nos balcões das lojas.
Já o Magazine Luiza fechou parceria com a Dell Anno, linha de móveis planejados que desenvolveu uma cozinha exclusiva retrô popular. Os móveis saem com o nome de Telasul, a segunda linha mais econômica da Dell Anno. A primeira é a New, aberta há dois anos, especialmente para a classe C, que já conta com 200 lojas.
Arredondando. "Mas ela (a classe C) tem dificuldade de imaginar o resultado final, a composição no ambiente", explica o arquiteto Ruy Ohtake, que projetou a construção de um conjunto habitacional em Heliópolis, na zona sul da capital paulista. São 71 edifícios redondos, cada um com 18 apartamentos de 52 metros quadrados, distribuídos em quatro andares. "Como o projeto é arrojado, os futuros moradores acharam que não haveria móveis adequados para um espaço redondo", conta Ohtake, que teve várias reuniões com a comunidade. "Até decoramos uma das unidades para ficar em exposição."
A primeira ideia do arquiteto era desenhar o mobiliário. "Mas a construtora achou que deveríamos usar móveis que fossem baratos e fáceis de encontrar. Foram gastos R$ 20 mil para comprar tudo, do fogão ao triliche branco das crianças que fica no segundo quarto.
Na mesma Heliópolis, neste semestre, a Escola Técnica Estadual (Etec) promove uma disputa em que os moradores vão concorrer a um ambiente de casa repaginado pelos alunos da primeira turma do curso de Design de Interiores. "Estamos fechando parcerias para colocar o projeto em prática", conta Eduardo Lopes, coordenador do curso.
Com um orçamento menor, de apenas R$ 15 mil, Saulo Szabó, do escritório de arquitetura Szabó e Oliveira, planejou um apartamento de 40m². "Nesse custo entraram os móveis, quadros, revestimentos das paredes, iluminação e a minha comissão." Mas o cliente tem de aceitar certas limitações, como repaginar móveis antigos e usar materiais alternativos.
Investimento R$ 17,97 bi foram gastos no ano passado, por integrantes da classe C, para tornar a casa mais bonita
5,7 vezes
foi o quanto cresceu esse investimento, em comparação com 2002


Folha.com: Indústria faz móveis inspirados na classe A para atrair C e D

Matéria da Folha.com de MARIANA SALLOWICZ

A indústria brasileira de móveis está investindo em tecnologia e design para atrair os consumidores das classes C e D. O objetivo é conquistar essa fatia da população com produtos inspirados naqueles desenvolvidos para a classe A, porém, com matérias-primas mais baratas e preço reduzido.

A tendência foi apresentada em uma das principais feiras do setor, a Movelpar (Feira de Móveis do Estado do Paraná), realizada entre os dias 14 e 18 de março no polo moveleiro de Arapongas (PR).
"A demanda por móveis está vindo das classes de renda mais baixas, que tiveram um aumento do poder aquisitivo nos últimos anos e estão cada vez mais exigentes. O setor está atento a isso e se adaptando", afirmou o presidente da Movelpar, Wanderley Vaz de Lima.

No ano passado, as classes C, D e E (renda familiar de até 10 salários mínimos) gastaram R$ 26,2 bilhões em móveis e itens domésticos, mais do que as A e B (acima de 10 mínimos), que totalizaram R$ 15,8 bilhões, mostra estudo do Data Popular.

A previsão para este ano é que os gastos da classe C, D e E cresçam cerca de 15%, enquanto a alta nas A e B é estimada em 8%.

Divulgação
Móveis da Herval, que atua no Sul, e lançou uma linha de móveis popular baseada em seus produtos top
Móveis da Herval, que atua no Sul, e lançou uma linha de móveis popular baseada em seus produtos top
TOP
 
O grupo Herval, que atua no Sul e fabrica móveis para as classes A e B, lançou na feira uma linha de móveis popular baseada em seus produtos top. Segundo o gerente de marketing, Paulo Pacheco, o varejo vinha solicitando produtos para estas classes. "Revisamos nossos processos, buscamos novas matérias-primas e acabamentos e pesquisamos as necessidades de consumo dessa camada social".

Os móveis vêm com alguns diferenciais que antes só eram feitos em linhas mais sofisticadas, como puxador de alumínio no lugar do de plástico, cores mais sóbrias e adega no móvel da cozinha.
A paranaense Colibri Móveis do Brasil, que fabrica rack, estante e dormitório, também desenvolveu uma nova linha de produtos focada na classe C, além de ter investido 5 milhões de euros (R$ 11,58 milhões) na modernização do parque fabril. "Estamos fazendo produtos com design parecido com o da classe A, mas com preços mais acessíveis", afirma Marco Kumura, diretor de mercado da Colibri.

Segundo ele, é possível reduzir os custos com a fabricação em massa. "Os produtos direcionados à elite são muitas vezes feitos artesanalmente, o que encarece o produto. Além disso, utilizamos matéria-prima mais barata".
Divulgação
A paranaense Colibri também desenvolveu uma nova linha de produtos focada na classe C
A paranaense Colibri Móveis do Brasil também desenvolveu uma nova linha de produtos focada na classe C

No processo de modernização, a indústria também desenvolveu uma tecnologia em acabamento de superfície, "que permite um visual de madeira natural, com toque aveludado e grande resistência, mas com um custo menor", afirma Kumura.
ESPAÇOS COMPACTOS

A Kit's Paraná, especializada em conjuntos de cozinha e localizada em Arapongas (PR), lançou na Movelpar móveis para espaços de até 80 metros quadrados, como os imóveis do Minha Casa, Minha Vida.

"Estamos focando nas necessidades da classe C. As entregas de diversos empreendimentos do programa começaram no ano passado e, em 2011, as pessoas devem começar a mobiliar", diz o diretor José Carlos Arruda, prevendo um aumento de 25% no faturamento neste ano.

"Os móveis de cozinha vêm em módulos, que permitem diversos arranjos e personalização. Há ainda novos padrões de cores". 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Jornal do Brasil: Galeria de design contemporâneo Clark Art Center é inaugurada em Botafogo

Alessandra Clark inaugura a primeira galeria de design contemporâneo da cidade, abre os arquivos da artista plástica Lygia Clark ao público e promove intercâmbio com curadores e artistas nacionais e internacionais.

Tudo isso começa a acontecer no próximo dia 29 de abril, data de inauguração da Clark Art Center, um espaço para celebrar a criatividade e a energia do design e da arte contemporânea. A galeria funciona numa casa branca de três andares com enormes janelas na rua Teresa Guimarães, em Botafogo. O espaço expositivo funciona nos 100 metros quadrados de área livre do primeiro andar, que vai receber mostras permanentes e temporárias, happenings e eventos ligados aos diversos segmentos do design e da arte contemporânea. Serão privilegiadas expressões como objetos, jóias, fotografia, moda, móveis, ilustração, toy art, street art, aromas, paladar, som e dança.

O segundo andar do Clark Art Center abriga a Associação Cultural “O mundo de Lygia Clark” que além de disponibilizar para pesquisa todo o acervo de uma das mais importantes artistas brasileiras, vai realizar mensalmente eventos dedicados às suas experiências, proposições e leituras de textos ainda inéditos.

O objetivo da designer Alessandra Clark – idealizadora de todo o projeto e responsável por cada detalhe do amplo e claro espaço de paredões brancos, piso de cimento queimado e  escadas metálicas coloridas –  é que a Clark Art Center seja antes de tudo um espaço produtivo e uma vitrine para “criativos” que estão começando. “A galeria vai expor de forma dinâmica obras de todo um universo de designers contemporâneos brasileiros e estrangeiros, inclusive as minhas. Vamos ter um laboratório de produção de peças que recebem a marca própria da galeria e também queremos estabelecer parcerias com instituições de ensino daqui e de fora. O Rio sempre foi formador de tendências e voltado para a criação em todas as áreas. Tem estilo e vocação para  o design. Aqui, em 1962, foi criada a primeira escola superior de desenho industrial brasileira, a ESDI, e hoje temos cerca de dez grandes universidades formando centenas de profissionais a cada ano. Acredito que o mercado carioca precisa de um espaço como o nosso. Estaremos abertos para essa garotada e queremos em pouco tempo ser um centro de referência do design carioca”, declara.

A galeria Clark Art Center estará aberta  para a arte contemporânea sempre dando preferência à experimentação e ao diálogo entre linguagens: “Nossa intenção é ser um laboratório de idéias onde as pessoas tenham liberdade poética para criar. Aqui é permitido ousar e experimentar”, sentencia Alessandra.

Abertura:  Dia 29 de abril de 2011 as 19h30

1º andar - exposição “Criativos da Casa”

Curadoria: Alessandra Clark

30 de abril a 29 de junho 
-  Alessandra Clark – produtos
-  Alexandre Grand – fotografia
-  Ana Fernandes –  taste art (designer de paladar)
-  Denis Linhares - fashion designer
-  Filipe Agnelli – street Art
-  Guilherme Santos – street art
-  Kakau Hofke – objetos inspirados no Rio de Janeiro
-  Kiko Fernandes – sound art
-  Maria João – design de aromas exclusivos
-  Nuno Franco de Sousa – Fotografia
-  Paula Mori – caixa de arte – dança contemporânea

2º andar - O Mundo de Lygia Clark - Espaço permanente
-  Pesquisa: biblioteca, banco de imagens digital, banco de documentos;
-  Réplicas neoconcreto: 2 bichos, caminhando, obra mole;
-  Réplicas sensoriais: cabeça coletiva, máscaras sensoriais, rede de elásticos.

Eventos
Uma vez por mês haverá um evento dedicado às prosições Lygia Clark de 20 as 23h.
9/05 – Canibalismo | 13/06 – Baba Antropofágica | 11/07 – Rede de Elástico | 08/08 – Corpo Coletivo | 12/09 – Túnel | 10/10 – Arquitetura Biológica | 14/11 – Estruturas Vivas | 12/12 –
Mediadores: “nomes ainda não confirmados”

Clark Art Center
Rua Teresa Guimarães 35 – Botafogo
Tel.: 2531-8137
Horário de funcionamento:
Segunda a sexta feira: 11 as 17h
Sábados e domingos: 12 as 17h (só a galeria)
(atendimentos em outros horários com agendamento prévio)
clarkartcenter.com.br

Matéria do Jornal do Brasil do dia 26/04/2011

O declínio da criatividade

A um tempo atrás foi postado um vídeo que falava sobre como as escolas anulam a criatividade das pessoas "Escolas matam a Criatividade"

E fuçando na net encontrei um blog muito bacana, Criatividade e Inovação do Jairo Siqueira que faz Consultoria e treinamentos em criatividade, inovação e negociação. Vale a pena dar uma bela fuçada nesse site.

Já na página inicial apresenta um texto com uma pesquisa muito interessante que fala sobre esse tema da perda da criatividade.

"Desde o momento em que ensaiamos nossos primeiros passos, tem início um sutil e inconsciente movimento de inibição de nossa criatividade natural. Primeiro em casa, depois na escola e no trabalho, somos instados a andar em terreno já conhecido, seguir a tradição e não “fazer marolas”.
Em 1968, os pesquisadores  George Land e Beth Jarman realizaram uma reveladora pesquisa sobre criatividade com um grupo de 1.600 jovens nos EUA. O estudo se baseou nos testes usados pela NASA para seleção de cientistas e engenheiros inovadores. No primeiro teste as crianças tinham entre 3 e 5 anos e 98% apresentaram alta criatividade; o mesmo grupo foi testado aos 10 anos e este percentual caiu para 30%; aos 15 anos, somente 12% mantiveram um alto índice de criatividade. Teste similar foi aplicado a mais de 200.000 adultos e somente 2% se mostraram altamente criativos.
No livro Breakpoint and Beyond: Mastering the Future Today (1992), George Land e sua colega Beth Jarman concluíram que aprendemos a ser não-criativos. O declínio da criatividade não é devido à idade, mas aos bloqueios mentais criados ao longo de nossa vida. A família, a escola e as empresas têm tido sucesso em inibir o pensamento criativo. Esta é a má notícia. A boa notícia é que as pesquisas e a prática mostram que este processo pode ser revertido; podemos recuperar boa parte de nossas habilidades criativas. Melhor ainda, nós podemos impedir este processo de robotização.
O desenvolvimento da criatividade requer que abandonemos nossa zona de conforto e nos libertemos dos bloqueios que impedem o pleno uso de nossa capacidade mental. Nas palavras do poeta Guillaume Apollinaire, temos de perder o medo de voar:
Cheguem até a borda, ele disse.
Eles responderam: Temos medo.
Cheguem até a borda, ele repetiu.
Eles chegaram.
Ele os empurrou… e eles voaram.
Convido-o a seguir comigo neste vôo e explorar as respostas a algumas questões importantes: Qual o significado de criatividade? O que sabemos sobre a criatividade humana? E como podemos usar este conhecimento para desenvolver nossa criatividade?
Num primeiro momento, nós abordaremos o significado dos conceitos criatividade, inovação e inteligência. Em seguida, analisaremos os diversos tipos de bloqueios mentais e como superá-los. Num terceiro momento, exploraremos diversas técnicas de criatividade e como você pode usá-las para o seu desenvolvimento profissional e para a solução criativa de problemas.
Acredito que todos nós, cada um a seu modo, somos capazes de realizações criativas em alguma área de atividade. Para isso, é necessário contar com as condições certas e com o acesso aos conhecimentos e habilidades apropriadas."
 Texto do Jair Siqueira do site Criatividade e Inovação:  Clique aqui e confira o site do Jairo Siqueira
 


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Seminário Internacional de Design e Política

Seminário Internacional de Design e Política
29 e 30 de abril, no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna
Belo Horizonte - Minas Gerais

Mostra de Design 2011

Em sua sexta edição, a Mostra de Design ganha maiores proporções. Os seminários estão repletos de profissionais de vários países do mundo. A ideia é trazer essas pessoas para compartilhar suas experiências e, assim, estimular novas formas de pensar o design bem como explorar novas possibilidades.

 
A Mostra acontece entre os dias 29 de abril a 29 de maio. Durante todo o mês diversas atividades acontecerão: exposições, piquenique na rua, visita a agências, mostra de novos talentos, workshops, seminários com palestrantes internacionais, concursos, passeio pela cidade e incentivo a novas ideias. Tudo isso, em torno do tema da mostra: “Design, política e interesse público”.


Participe!
Semana passada foi o RDesign de Vitoria esta semana Belo Horizonte, nos dias 29 e 30 de abril nos encontramos no Teatro Klauss Vianna – Oi Futuro da Avenida Afonso Pena, 4001 – Belo Horizonte, Minas Gerais link para participar do:
Seminário internacional de design e política que é uma atividade da MOSTRA DE DESIGN 2011.
teremos também workshops com alguns dos convidados na semana seguinte.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Pio Manzù e a dimensão social do automóvel

(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)

Em 1965 era apresentado o Autonova Fam. Criado para ser um veículo universal, capaz de atender as diferentes necessidades do transporte de passageiros e bagagens no contexto urbano e também fora da cidade, este projeto de Pio Manzù e Michael Conrad se destacava pela rigorosa síntese formal, detalhado ao extremo, de design “moderno” e simples.

Mais de 40 anos se passaram e a visão de Manzù nunca esteve tão atual. O designer, que veio a falecer num acidente de carro em 1969, sempre buscou combinar a mobilidade individual com o sistema de transporte público e privado.

Ingressou para a HFG Ulm em 1960 e lá teve contato com as aulas de design automotivo de Rodolfo Bonetto, a principal contribuição da escola para sua formação. Já no segundo ano venceu, juntamente com dois colegas, um prestigioso concurso internacional que permitiu a execução de seu proprio projeto pelo famosa Carrozzeria Pininfarina.

Em 1965 se formou com um detalhado projeto para um trator de 80hp, que trazia consigo uma reflexão sobre o estado das máquinas agrícolas na época além de um rigoroso estudo de técnicos e ergonômicos.

Em 1968 era apresentado no Salão do Automóvel de Turim seu protótipo para um táxi urbano. Após uma extensa análise das condições do tráfego urbano e das qualidades práticas de um veículo público, Manzù pôde definir uma série de requisitos principais: compacto, com boa visibilidade, acessível, seguro e de fácil identificação. Nele foram incorporadas idéias inovadoras para a época, como a inclinação do assento do motorista, o sistema de correias para segurar as bagagens no bagageiro, bolsos para guardar mapas no teto (numa época em que não havia GPS), painel com rádio, telefone e taxímetro embutido, dentre outros. Este táxi foi um dos primeiros a serem especialmente concebidos para esta finalidade.

Pio Manzù sempre exerceu o design com muita reflexão crítica. Seu principal compromisso sempre foi com as questões de mobilidade e a real função do design. Seu trabalho reúne diversos ensaios onde a mobilidade no contexto urbano é central, com numerosos projetos de veículos urbanos compactos e complexos sistemas de infra-estruturas viárias.

Ele não só lidou com formas, mas também com problemas técnicos e de produção, resolvendo a viabilidade industrial, processos envolvidos e a própria identidade da marca. Ainda, antecipou questões que foram desenvolvidas em décadas posteriores, como os usos recreativos e esportivos do automóvel, além da atual necessidade de se ampliar o sistema de transporte, harmonizando-o com requisitos ambientais.

Em seus últimos escritos, ele nos encoraja dizendo: “O automóvel hoje é um meio de transporte individual inserido num complexo sistema de transporte coletivo. Estas relações não podem ser ignoradas. Os meios de transporte individuais devem se submeter às restrições impostas pelo sistema. Isto implica em uma forma de transporte que preencha certas funções: daí um veículo funcional. Os designers de automóveis são claramente confrontados com novas estruturas, novas tarefas: evolução científica e tecnológica é um estímulo mas ao mesmo tempo um alerta para que não se permaneça ancorado em posições do presente ou passado”.

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Imagens: Pio Manzù em 1964 na montagem do protótipo Autonova Fam (crédito: gamec), Autonova Fam 1964 (crédito:gamec), projeto “design para um trator de 80hp” 1965 (crédito: blog autodesign), City Taxi 1968 (crédito: blog autodesign), interior do City Taxi (crédito: flickr).

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Mais em: Auto design: Pio Manzù – Pioneer of car and transportation design.

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Rafael Gatti é idealizador do projeto Design Simples.

domingo, 24 de abril de 2011

O good design japonês e os produtos Muji

(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)

“Não se trata de um concurso de beleza, nem um prêmio que avalia os resultados de um projeto em termos econômicos”. Assim se auto define o prêmio Good Design japonês, uma campanha a favor de um design capaz de enriquecer nossa sociedade, que defende a visão de que este ofício é essencial para melhorar a vida de cada indivíduo.

Este prêmio foi criado no Japão, na década de 50, numa época em que os japoneses atravessavam grandes dificuldades econômicas. O selo Good Design (conhecido como g-mark) trazia a esperança de que o bom design contribuiria para o fim daquele ciclo de pobreza.

Hoje organizado pela Organização Japonesa de Promoção do Design Industrial, este prêmio vem revelando projetos de destaque, que buscam aliar uma vida próspera com o desenvolvimento industrial. Conheça o site do prêmio.


Prêmio Design de Longa Vida

Como se todo o idealismo contido na proposta deste prêmio não fosse o suficiente, navegando pelo site do Good Design encontrei uma interessante premiação, paralela ao prêmio principal: o “prêmio de design de longa vida”, por incrível que pareça, criado em 2008. Nesta categoria extra, são reunidos produtos cujo design foi capaz de resistir ao tempo e às diferentes (e tão prejudiciais) tendências de moda. Algo extremamente desejável em tempos de crise ambiental. Veja a lista dos premiados.


Os produtos Muji

Logo nota-se que os produtos criados para a loja japonesa Muji representam grande parte da lista de premiados neste prêmio de longa vida. Sem dúvida designs do mais alto nível, de uma concepção racional que vai contra o movimento de consumo pelo consumo, tão estimulado nos dias de hoje. Algo que, para mim, deve ser muito próximo do que inevitavelmente precisaremos num futuro de recursos escassos. Por fim, gostaria de compartilhar por aqui três casos tirados desta lista. Através de uma tradução livre, colocarei trechos da descrição e avaliação de cada produto que também pode ser lida na íntegra no próprio site. Enfim, deliciem-se!

Estante com prateleiras de aço: No mercado, com o mesmo desenho, há 14 anos.

Este projeto do designer Masaru Kagaya foi descrito como “um sistema de módulos independentes que podem ser combinados para uma completa ênfase sobre a função, este é um típico sistema de estantes que permite que as prateleiras possam ser colocadas em qualquer lugar. A forma, que simplifica a função, não se afirma completamente sobre o interior, mas pode ser usada em qualquer lugar; uma das maiores atrações deste protótipo é o sentimento de cumplicidade para com o consumidor que sabe que pode adquirir sempre mais”.

Avaliação: “Com a expansibilidade do sistema de módulos e com a sua longa vida (desde que a empresa garante que vai continuar a oferecê-lo), este é um produto que você poderá usar em longo prazo com confiança”.

Cd player: No mercado, com o mesmo desenho, há 11 anos.

Este design de Naoto Fukusawa foi considerado “um leitor de CDs com uma interface simples que qualquer um pode compreender, como puxar a corda de um ventilador para ligá-lo e desligá-lo. O produto transmite forte sensação de presença de um instrumento primitivo, emanando sua pureza por todo lado: é notável como o usuário pode ver diretamente que o disco está girando e notar que está em funcionamento”.

Avaliação: “Apesar do leitor de CDs ter um conceito totalmente novo, tornou-se um novo padrão. É simples e belo. Te convence de que é o suficiente; não é necessário mais design”.

Cama: No mercado, com o mesmo desenho, há 22 anos.

Um projeto vitorioso de Masaru Kagaya e Katsumi Imai, “o colchão foi todo reduzido para atender apenas as funções necessárias para dormir e sentar-se, conferindo-lhe grande utilidade para uso como cama ou sofá. Isto transforma espaços que poderiam ser apenas quartos, em salas de estar. Este produto obteve enorme sucesso em pessoas que vivem em quitinetes”.

Avaliação: “Embora tenha uma vida longa, possui também um olhar moderno que agrada aos jovens de hoje. Mesmo para um produto Muji é especialmente simples e bonito; aquele design que faz você pensar que não poderia ser mais simples do que isso”.

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Rafael Gatti é idealizador do projeto Design Simples.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Top 5: Picapes pequenas

(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)

Num país predominantemente rodoviário como o nosso, as picapes são de grande utilidade para micro e pequenos produtores e comerciantes que necessitem transportar cargas menores e podem até ser consideradas verdadeiros bens de capital. No entanto, o que temos observado é um forte movimento de “fetichização” deste produto utilitário, possivelmente com o objetivo de ampliar seu mercado consumidor. Desta forma seu design sofre pressões para se tornar cada vez mais visualmente perecível, para uma rápida desatualização seguida de substituição. Assim, olhamos para o exterior das caçambas das picapes mais vendidas hoje para tentar entender melhor este fenômeno e, à partir desta análise, criamos um despretencioso ranking. Conheça abaixo o resultado:

A picape Saveiro, da Volkswagen, recebeu nossa primeira colocação devido ao seu belo conjunto de formas retangulares com cantos arredondados, que lhe confere notável unidade visual. De planejamento consistente, transmite robustez através do alinhamento geométrico que torna sua construção visual evidente. O emblema do fabricante é posicionado ao centro, com bom recuo dos demais elementos, tornando a marca ainda mais perceptível. Já suas lanternas organizam as setas de forma equilibrada e seu pára-choque faz suave transição com a carroceria. Limpeza, estrutura visual evidente e simplicidade tornam este design de exterior permanente e pregnante, aliviando qualquer demanda por novas re-estilizações.

Com um partido também simples, a picape Courier, da Ford, é nossa segunda colocada por sua concepção econômica, sem exageros ou maneirismos. Dividida em serenas faixas horizontais, sua lanterna faz uma comunicação objetiva. Apenas incomoda o ruidoso filete vertical localizado com a extremidade da tampa da caçamba. Ainda, o contato do pára-choque com a carroceria não possui continuidade, parecendo truncado. No geral, despreza a estratégia do descartável. Tanto é verdade que não sofre re-estilizações há 15 anos.

O terceiro lugar ficou com a Chevrolet Montana, que apresenta um conjunto repleto de ângulos pronunciados, transições secas e volumes facetados para comunicar robustez. Suas lanternas seguem um padrão assimétrico que incrementa o número de informações visuais. A quebra da continuidade da superfície do pára-choque resulta em uma percepção fragmentada do volume e a sensação de tensão, especialmente na sua ponta mais aguda. Desta forma, não é possível ficar seguro quanto à perenidade deste exterior, que poderá pedir uma renovação em breve.

Realmente literal em sua tentativa de comunicar agressividade e resistência, a picape Strada, da Fiat, recebe o penúltimo lugar neste nosso jogo. O uso de grandes refletores como artifício para simular grandes lanternas é um excesso desnecessário. Repleto de rebuscamentos e contrastes de volumes, seu pára-choque peca quanto ao número de saliências e reentrâncias, pouco desejáveis em um produto de uso em terrenos extremos e que, em determinado momento, precisará ser lavado. Porém a predominância de peças plásticas no pára-choque é um ponto positivo numa situação de uso que precisa tolerar pequenos impactos. Em suma, esta concepção, que já é uma re-estilização do modelo anterior, não forma um bom conjunto visual. Como dizem: quanto mais se mexe…

Na última posição fica a estréia da Peugeot neste segmento, a picape Hoggar, que apresenta uma tentativa de transmitir juventude e esportividade através de formas desconstruídas. No entanto, parece ter sido desenhada numa só tacada e ainda demanda lapidação. Não é possível observar unidade formal clara, muito menos equilíbrio em suas proporções. Chama a atenção as grandes lanternas que, se analisadas isoladamente, pecam em coerência interna: enquanto sua lente sugere um partido formal (cunha ascendente), suas luzes seguem um outro (elipse). O mesmo acontece no pára-choque, cujo corpo central obedece um padrão geométrico e a transição com a carroceria segue um padrão de formas orgânicas. Assim, não resta dúvidas que a desorganização da informação visual neste caso torna este design o mais perecível de todos aqui listados. Ainda não faz um ano de seu lançamento e a picape já parece desatualizada. Algo pouco honesto com seu comprador.

E os leitores? Concordam com esta classificação? Possuem algum destes produtos? E se for o caso, qual foi o principal motivador da compra?

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Posição dos concorrentes no ranking de emplacamentos de Janeiro de 2011 – Fenabrave.

Strada/Fiat………….. 7.428

Saveiro/VW…………. 4.738

Montana/GM………… 2.581

Courier/Ford………… 574

Hoggar/Peugeot……. 313

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Rafael Gatti é idealizador do projeto Design Simples.

sábado, 16 de abril de 2011

A função estética nos banheiros acessíveis

(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)

Quem já entrou, mesmo que por engano, em um banheiro equipado para deficientes físicos certamente deve ter notado a presença chamativa das barras metálicas, puxadores e antiderrapantes. Estruturas aparentes parecem acompanhar a maioria dos produtos voltados para a acessibilidade, das cadeiras de rodas às próteses ortopédicas. Apesar das vantagens práticas e de produção oferecidas pelo metal, por exemplo, nem sempre seu aspecto liso e frio resulta em uma interação estética e sensorial agradável a este usuário, tão carente de uma experiência mais acolhedora.

Desta forma, pode-se dizer que a maioria dos produtos voltados aos usuários com alguma deficiência ou mobilidade reduzida não contemplam a função estética com o mesmo peso reservado às funções práticas. Esta é uma disfunção que atinge a percepção do usuário sobre estes produtos e, portanto, um problema de design.

Um foco principal pode ser identificado: a falta de sintaxe. Isto significa que falta unidade entre as peças do conjunto formado pelos objetos básicos de um sanitário, tais como vasos, pias e boxes, em relação aos acessórios adaptados para promover a acessibilidade, tais como barras, puxadores, assentos dobráveis e pisos antiderrapantes. Observando seus materiais, superfícies, dimensões e proporções, nota-se claramente o descompasso formal entre estas duas categorias de objetos, o que nos transmite uma sensação de algo paliativo e improvisado.

Esta falta de consistência visual do conjunto de objetos que compõe um banheiro acessível traz consigo uma percepção negativa por parte do deficiente, pois acaba por evidenciar, por contraste, a instalação destes acessórios de apoio. Desta forma enfatiza-se o estado de dependência do seu usuário, sendo esta uma das principais justificativas para a resistência que ele próprio tem para adaptar seu banheiro.

No entanto, apesar das rígidas normas técnicas que especificam estes produtos, é possível oferecer soluções para instalações sanitárias um pouco mais apuradas esteticamente. Aqui entende-se estética como sendo o conjunto de decisões formais de um produto baseadas em critérios objetivos, portanto mais uma das funções que o design deve atender. Na imagem ao lado é possível observar como o tratamento superficial dos tubos metálicos atenua a impressão fria e impessoal do alumínio. Ainda pode-se dizer que a opção pela cor preta busca reduzir visualmente a escala desproporcional desta barra de apoio. Isto já é o suficiente para que o conjunto fique mais harmônico, consistente e neutro.

Veja como o vaso sanitário se torna mais leve quando suspenso. Além disso, uma dose extra de rigor faz com que não se note sua fixação na parede.

É possível! Basta encarar o desafio com seriedade e conhecer a fundo as possibilidades do design.

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Rafael Gatti é idealizador do projeto Design Simples.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Future by design (documentário)

(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)

William Gazecki produziu este documentário sobre a vida e a obra do designer industrial, inventor, engenheiro social e futurista Jacque Fresco. Suas experiências abrangem a área aeroespacial, automotiva, arquitetônica, psicológica, dentre outras. Sua obra é mais prática do que teórica. Fundou o “Venus Project” na Flórida, cujo objetivo é buscar soluções para os graves problemas de nossa época através da aproximação da tecnologia com a sociedade.

Sabemos que os recursos do planeta são limitados e ao mesmo tempo tudo o que temos. Fresco faz pesada oposição ao “sistema de escassez” que predomina nos dias de hoje, onde quanto mais rara for determinada matéria-prima, maior será o seu valor para a economia. Este processo parece seguir direção oposta à da nossa sobrevivência na Terra. Como será quando o que acontece hoje com o petróleo, amanhã passar a acontecer com a água potável? Será que os interesses coletivos sobre estes recursos vão superar os interesses econômicos de alguns de seus poucos detentores?

Através de maquetes e modelos em escala, Jacque Fresco prototipa um novo mundo onde questões críticas hoje já estarão resolvidas pelo homem e sua capacidade racional. Seu futuro é um lugar extremamente automatizado que busca a máxima eficiência no aproveitamento de matérias-primas e energia. Fresco não se considera um tecnocrata. A tecnologia não criará um ambiente opressor à auto-expressão e liberdade de seus habitantes. Muito pelo contrário, uma vez livres das atividades mais mecânicas e burocráticas, os humanos se dedicarão cada vez mais ao aprimoramento das suas habilidades e vocações.

As visões de Jacque Fresco não estão tão distantes assim da nossa própria capacidade de intervir na realidade. Podemos aplicar um pouco do seu pensamento no nosso dia-a-dia. Melhorar nossos hábitos de consumo, rejeitando tudo aquilo que incentive o desperdício de quaisquer recursos naturais e optando por produtos úteis, com longo ciclo de vida, é uma forma de lutar contra o indesejável ciclo de escassez.

Com pés mais no chão, temos que entender o teor conceitual do trabalho de Fresco. Ele mesmo comenta que existe certa dose de exagero em suas maquetes e qualquer pequena variação, a qualquer momento, mudará todo o rumo das coisas. Talvez o que mais nos sirva neste documentário é o exemplo de determinação, idealismo e otimismo presente no ato de projetar de Jacque e que deve nos inspirar a sempre buscar algo que pode ser melhor para todos.

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Rafael Gatti é idealizador do projeto Design Simples.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Responsabilidade e Influência do Designer no lançamento de novos produtos

Recentemente estou trabalhando em alguns projetos gráficos para psicanalistas e pude observar de perto uma questão que causou polêmica essa semana entre esses profissionais a respeito do lançamento de um novo produto. Então achei interessante publicá-lo aqui  para ser discutido entre designers e futuros designers.

Mônica Bergamo – Folha Ilustrada FOLHA DE S.PAULO (06/04/2011): "MEU PRIMEIRO SUTIÃ 1 Um sutiã cor-de-rosa com bojo de espuma imitando o formato de seios é vendido em tamanho seis (para menina de seis anos) nas Lojas Pernambucanas. O produto leva etiqueta da Disney e tem estampa de Sininho, a fada de "Peter Pan", na calcinha do conjunto, que custa R$ 15,90. A Disney e as Pernambucanas não responderam quem projetou a peça, sua vendagem nem se o bojo infantil é funcional ou estético. MEU PRIMEIRO SUTIÃ 2 Casos similares geraram comoção pelo mundo nas últimas semanas. Nos EUA, a grife Abercrombie retirou de sua loja virtual, na semana passada, um biquíni para meninas de sete anos que tinha parte superior "push-up", que projeta os seios. Na Inglaterra, em março, a rede Primark doou para ONGs de defesa infantil a renda da venda de um biquíni com bojo para meninas de sete anos."
Imagem: rafavac.blogspot.com

A polêmica gira em torno da "adultização" e precoce erotização que o produto induz para meninas de 6 anos de idade, sendo extremamente prejudicial a saúde mental dessas crianças, visto que ainda são despreparadas emocionalmente para esta exposição. Visando somente o lucro, já que bojo para meninas de 6 anos não tem absolutamente nenhuma função real, essas empresas colocaram no mercado um produto sem medir as conseqüências que poderão gerar na sociedade e nos seus consumidores (no caso a perda da infância e o apelo sexual).


Segundo matéria publicada no site do Instituto Alana "Além do problema da erotização precoce, há a questão do consumo exacerbado e dos valores materialistas . (...) A criança cresce preocupada com sua aparência, extremamente consumista e com valores distorcidos".

O mais interessante é perceber o quanto podemos influenciar um comportamento social e o quão longe podem chegar as consequëncias de um design de produto mal empregado e sem comprometimento ético.

Pé de boi

(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)

Pára-choques pintados de branco, apenas um velocímetro, ausência de frisos na carroceria e nas borrachas da janela, revestimento liso no forro do teto, nas portas e bancos, nenhum cromado no painel nem nos estribos, rodas básicas e calotas brancas.

Esta foi a versão mais básica, batizada Pé-de-Boi, do Volkswagen Sedan (o nosso conhecido Fusca), lançada no ano de 1966. Logo nota-se que seu compromisso era com custo, total racionalização e eficiência do produto.

Durante a década de 60 o governo brasileiro promovia linhas de crédito e incentivos fiscais para modelos de automóveis mais baratos e simplificados, com objetivo de acelerar a economia estimulando a venda de carros novos para o público de baixa renda, taxistas, frotistas e para a população rural do país. Daí nasceu o apelido “pé-de-boi”, já que o pequeno Volkswagen era capaz de enfrentar as áreas rurais de mais difícil acesso e se encontrava preparado para receber muito pouco cuidado.

Assim como a Volkswagen, durante aquela década outras montadoras interessadas nos incentivos governamentais também apresentaram modelos populares extremamente econômicos na utilização de itens supérfluos ou pouco essenciais. O Simca Profissional eliminou todos seus frisos cromados e tinha como público-alvo os taxistas. Seus parachoques foram pintados de cinza escuro e seus bancos foram revestidos em plástico. O DKW Vemag Pracinha era uma versão ainda mais “despida” do seu antecessor, sem carpete nem tampa no porta luvas. E ainda havia o Willys Teimoso com sua única lanterna traseira.

Recentemente, entre dezembro de 2008 e março deste ano, vigorou no país uma redução no IPI (imposto sobre produtos industrializados) que foi responsável por incentivar nossa produção industrial aquecendo a venda de automóveis novos e ajudando o país a enfrentar a última crise econômica mundial. Algo não muito diferente daquela época.

Tanto no passado quanto nos últimos anos, procuraram estimular a economia através do consumo de bens industrializados, com grande peso para o automóvel. No entanto, vemos na década de 60 um respeito maior com os recursos econômicos e, porque não, naturais do que no caso atual. Isso determinou diretamente o projeto daqueles veículos. Não se queria que os recursos econômicos destinados aos financiamentos pagassem peças cromadas e desnecessárias. Assim, muitos moradores do campo puderam ter acesso ao seu primeiro carro, simples e pequeno, porém capaz de cortar as mais difíceis estradas de terra. Já na última redução do IPI, nenhuma categoria de automóvel foi privada do benefício fiscal. Muitos consumidores foram convidados a trocar seu veículo por um novo, ou mesmo por um segundo, mais atualizado e distintivo. Os vendedores dos grandes veículos utilitários esportivos puderam se beneficiar destes recursos colocando ainda mais carros “fora de estrada” para rodar no caótico trânsito urbano.

E quanta diferença existe entre um Pé-de-Boi e um SUV…

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Rafael Gatti é idealizador do projeto Design Simples.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A demissão do estagiário

Acabo de dispensar um estagiário. O rapaz, que está cursando o último semestre de Desenho Industrial numa das mais renomadas faculdades de São Paulo, foi contratado para uma das empresas onde atuo na Direção de Arte e, entre outras habilidades, opera como ninguém o AutoCad, SolidWorks e Mechanical Desktop. É justamente aí que está o problema.

Meu agora ex-estagiário, exímio desenhador na prancheta eletrônica, não foi capaz de me explicar como seria construído o rodapé de um móvel - seu projeto sugeria uma base sólida com 80 milímetros de espesssura, como se um pranchão de madeira desse tamanho fosse a coisa mais normal do mundo! Mas o pior foi constatar sua total ignorânca quando perguntei: Fulano, como vamos construir esse rodapé?E ele respondeu: Como assim??

Ao contratar um estagiário, a função da empresa é desenvolver o conteúdo que o mesmo aprendeu na faculdade e colocá-lo frente a situações reais do mercado de trabalho. Mas o que fazer se o conteúdo aprendido na escola é deficiente? Por que será que as escolas de design investem tanto tempo para ensinar o tal AutoCad e não preparam seus alunos para o questionamento e o desenvolvimento técnico? É lógico que o designer não precisa ser expert em materiais e processos, mas se seu trabalho for apenas desenvolver o conceito do produto para depois um projetista ou técnico “descascar o abacaxi” da produção, então é preciso mudar o conteúdo dos cursos e o próprio perfil profissional do Designer.

O mesmo acontece com egressos dos cursos de Design de Interiores: muito tempo gasto com o aprendizado do AutoCad e pouco exercício na produção artística. As escolas de Design Gráfico, por sua vez, formam excelentes operadores de Photoshop incapazes de estabelecer um diálogo com as artes. Óbviamente há escolas e Escolas (e felizmente ainda há instituições que perseguem a qualidade do ensino, estimulando a formação de um repertório de conteúdo e orientando os seus alunos a circular entre as áreas técnica e das artes).

Se de um lado algumas escolas de design (incluindo aí as faculdades de Desenho Industrial) negligenciam os conteúdos técnicos, de outro lado estão as escolas que alimentam demais o caráter autoral das criações. Nesses casos o estudante sai do curso com o título de “Deusigner”, pouco ou nada comprometido com a viabilidade técnica e econômica de seus projetos.

E finalmente analisando os cursos de Design sob a ótica de quem contrata, creio que existe uma outra questão grave neste cenário: a formação de professores. Quem ministra aulas no curso de Desenho Industrial são os bacharéis em Matemática, História e Filosofia, mais os profissionais a área (desenhistas industriais, arquitetos e engenheiros), que nem sempre estão preparados para dar aulas. Profissionais renomados e experientes não são garantia de uma boa aula uma vez que Designers, Arquitetos e Engenheiros não tiveram a disciplina Didática em seus cursos. A saída seria exigir que esses profissionais fizessem um Curso de Formação de Professores para só então abraçar a difícil missão de “ensinar design”.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Números do cotidiano

(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)

Números nos cercam por todos os lados e ajudam a organizar a populosa e complexa sociedade em que vivemos. Conforme surgem mais pessoas, documentos, endereços, linhas telefônicas, produtos, serviços ou qualquer nova necessidade de se inventariar algo, somos mais exigidos quanto aos números.

Em nosso dia-a-dia temos que memorizar desde o número da identidade até senhas de e-mail, anotar telefones, registros e até a frustrante tarefa de digitar códigos de barra, algo cada vez mais comum com o avanço dos meios de auto-atendimento bancário.

Se pararmos para pensar em toda essa diversidade, veremos que existem números mais fáceis de entender, memorizar, anotar ou até falar, do que outros. Às vezes o problema não é a quantidade de casas numéricas, mas sim a forma como tais números nos são apresentados. Uma determinada seqüencia de números pode ser dividida em grupos menores, separada por pontos, hífens ou barras, de modo a facilitar sua apreensão e torná-la mais inteligível possível.

Assim é possível dizer que existe design num número de CPF, por exemplo. Nele encontramos a preocupação com a eficiência de leitura e questões de cognição quando usa o hífen para isolar duas casas à direita. Portanto uma interface entre o dado numérico e seu observador.

Partindo da origem, na matemática pontos são utilizados para separar grupos de três casas da esquerda para a direita. Tal aglutinação indica sua leitura, assim como, por exemplo, em 1.234.567 onde se lê: um milhão, duzentos e trinta e quatro mil, quinhentos e sessenta e sete. Nota-se que números não inteiros são privados de pontos e sua leitura fica consideravelmente mais difícil como, por exemplo, em 0,123456 onde se lê: cento e vinte e três mil, quatrocentos e cinqüenta e seis milionésimos.

No telefone, convencionalmente, faz-se uso de chaves para indicar as duas casas que determinam o código DDD, em seguida, os oito dígitos restantes são agrupados em dois grupos de quatro casas separados por hífen. Por exemplo: (12) 3456-7890 Esta é uma configuração bastante difundida e conhecida. É tão intuitiva que faz com que raramente seja necessário indicar a palavra “fone” antes do número. No passado, quando ainda não existia o “web-site”, os anunciantes de televisão puderam se beneficiar da rapidez na leitura de seus telefones graças a este formato, economizando alguns segundos de exposição na tela. Visualizar o número de contato de um vendedor num comprimido classificado de jornal também fica mais fácil quando se adota este padrão de apresentação.

Documentos de identidade são problemas críticos, mais do qualquer outro, pois estes números nos acompanharão por toda a vida. No RG não existe uma quantidade pré-determinada de casas numéricas e os zeros à esquerda são desconsiderados, como no exemplo: 12.345.678-9 SSP-SP

Já no CPF, que é composto por 11 casas exatamente, considera-se os zeros à esquerda, como por exemplo: 001.234.567-89

A Carteira de Habilitação é um documento de identidade cada vez mais utilizado como alternativa ao RG e CPF, além de portar consigo ambos os números, é mais segura em relação às perdas e furtos. Porém suas vantagens terminam por aí. Copiar o número de uma CNH é um verdadeiro desafio para os olhos. São onze casas em seqüência, sem divisão alguma, como no exemplo: 11010987654321

Perder horas na fila do banco para pagar uma conta de luz é hoje uma opção. Os bancos têm realizados grandes investimentos nos canais de auto-atendimento o que tornou possível pagar contas em caixas automáticos ou até pela internet. Todo este esforço para simplificar a vida do cliente acaba em vão quando somos obrigados a digitar 48 casas agrupadas em apenas quatro campos. Um terror mesmo para os olhos mais habilidosos. A divisão em campos de 12 casas parece não ajudar muito, principalmente quando encontramos aquelas confusas seqüências de zeros consecutivos, bastante comuns e impossíveis de contar sem usar o dedo. Veja este exemplo: 123400000056 123456789012 123456789012 000123456789

Chaves de software, aquelas seqüências numéricas também extensas que temos que digitar quando instalamos algum programa em nosso computador, são bons exemplos de como facilitar a legibilidade de grandes números. Em alguns casos a seqüência é dividida em até cinco campos cujas últimas casas são isoladas por um hífen.

Por fim, os exemplos aqui apresentados nos mostram como boas interfaces são importantes e contribuem diretamente para a nossa qualidade de vida. Se já ficamos desconfortáveis quando precisamos ler um número de telefone todo aglutinado, sem separação entre casas (algo muito comum em agendas de celular, por exemplo), pense nos caixas de supermercado que precisam digitar manualmente extensos códigos de barras muitas vezes ao dia, ou ainda nos analistas cuja única função é comparar números de documentos.

Convido os leitores a citarem outros exemplos de casos tão frustrantes quanto estes. Situações que desprezam nossa cognição. Puras ausências de design, essencialmente interface.

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Rafael Gatti é idealizador do projetoDesign Simples.

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