Na minha época de estudante e no início de carreira, ser projetista era o máximo. O projetista era "o cara". A hierarquia era a seguinte: na ponta da cadeia estava o desenhista copista (coitado!), aquele que passava a nanquim o trabalho feito pelo desenhista, que por sua vez tinha a função de organizar informações e representar o plano executivo criado pelo projetista. O projetista era um elemento-chave na cadeia de projeto - sua função era viabilizar a idéia ou conceito do Arquiteto ou Engenheiro. Aliás, o que seria de Oscar Niemeyer se não fosse sua equipe de projetistas??
Muito bem. Numa certa altura dessa história entrou a figura do Designer que, assim como o Arquiteto, pesquisa, conceitua e cria produtos que precisam ser traduzidos para a linguagem de projeto. É muito comum ouvir chefes de fábrica reclamando dos "projetos" de arquitetos e designers que não trazem informações suficientes sobre materiais e métodos construtivos. E é aí que entra o Projetista (com letra maiúscula).
Não há problema algum em ser projetista. Como disse, sou do tempo em que o projetista era um profissional gabaritado, disputado pelo mercado devido à sua formação nas ciências exatas somada à habilidade e criatividade para resolução de problemas. A gente costumava brincar dizendo que "tínhamos nanquim nas veias..." rs.
Atualmente as escolas de design dedicam mais tempo a ensino do AutoCad (como se a representação gráfica do projeto fosse mais importante que seu conceito) do que às ciências da pesquisa e conceituação. Assim, o futuro designer confunde sua função com a de projetista e faz nem uma coisa nem outra.
Hoje exitem centenas cursos de design no Brasil, e uma categoria de curso chamada Técnico em Design. De acordo com um supervisor do
Curso Técnico em Design de Móveis do SENAI, o objetivo da instituição é formar "técnicos" em design de móveis para auxiliar o Designer. Mas não é isto que o mercado entende – muitos empresários contratam esses "técnicos" pensando que são Designers.
Vejamos algumas matérias do curso:
Noções de construção de móveis; Tipos de construção; Partes de móveis: gavetas - corrediças de madeira, corrediças metálicas; portas - correr eixo vertical, eixo horizontal, de enrolar, ferragens, fundos de armário, prateleiras, batentes, perfis; Processo de produção do móvel; Tipos de processo; Noções de Custos; Logística.
Na minha lingua o profissional formado pelo Curso Técnico em Design deveria se chamar... PROJETISTA!!
Qual é o problema de ser Projetista?? (o mercado precisa deste profissional...)
Porque os projetistas de hoje se auto-denominam "designers"?
(se eu domino o Autocad, sou designer...)
Que maldita confusão estão fazendo com os cargos e funções da cadeia de projeto?
O que andam fazendo as "associações" de designers que não lutam pela ordem e regulamentação do exercício de nossa profissão, esclarecendo o mercado sobre as reais funções do Designer?
Outro dia escrevi que, como designer, eu adoraria ser representada pelo CREA. Muitas pessoas não gostaram da idéia e voltaram à velha picuinha designer X arquiteto X engenheiro... Que bobagem! Há espaço para todos, inclusive para os os honrados Projetistas, parceiros do Designer na viablização técnica de suas idéias.
Acho que precisamos urgentemente reestruturar a cadeia de projeto para o bem dos futuros profissionais...
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Existe uma outra categoria de "designers" por aí: é aquele pessoal que fez um cursinho para dominar os softwares home design, muito comum em lojas de móveis planejados. O carinha em questão aprende a operar o 20-20, Promob, Domus e etc, e já "se acha" designer (rsrsrs).
Pra essa turma um amigo meu criou um novo status profissional: PROGETÊRO.
Este texto foi retirado do livro Um designer sozinho não faz milagres - Ed. Rosari http://www.rosari.com.br/
Este texto foi retirado do livro Um designer sozinho não faz milagres - Ed. Rosari http://www.rosari.com.br/