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terça-feira, 27 de abril de 2010

Designers ...nas asas da Panair, por Wagner Braga Batista

Bom dia crianças!
O texto não é meu, mas vale uma reflexão. Aliás, se vcs não conhecem, este site é muito bom: http://designbr.ning.com

“Conversando na mesa do bar” foi o título dado à bela canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, feita em 1972. Este expediente ludibriou a censura e permitiu que a música invocasse imagens da empresa nacional de aviação arbitrariamente extinta pelo regime militar, em 1965. A expressão nas asas da Panair acabou se vulgarizando como memória que não se extinguiu no tempo.
Quase na mesma época, o desenho industrial ou design despontava no cenário brasileiro como promissora atividade profissional. Não podemos esquecer sua importância e sua atualidade como elemento integrante da economia e da cultura brasileira.
No entanto, o design e a Panair são às vezes subtraídos do patrimônio cultural brasileiro e de nossa memória coletiva. É esquecido ou pouco valorizado como formação e atividade profissional indispensável na sociedade contemporânea. Daí, a importância de resgatar a memória do desenho industrial no Brasil e manter sempre presente a necessidade do reconhecimento e da regulamentação da profissão.
Um caso recente merece nossa abordagem.
No contexto do debate sobre a regulamentação da profissão de desenhista industrial ou designer causou justa indignação o fato da Empresa Brasileira de Aeronáutica- EMBRAER alijar designers de suas equipes de projeto. Além da constatação de um juízo mal feito por responsáveis pela montagem destas equipes, subsistiu o sentimento de discriminação efetuada por engenheiros, especialistas que disputam espaços com desenhistas industriais ou designers no desenvolvimento de projetos neste campo de atividade.
Devemos tirar algumas lições desta ocorrência.
Não é de hoje que desenhistas industriais ou designers são deslocados em equipes técnicas. De uma forma bastante sumária, podemos afirmar que a segregação de profissionais de nossa área deve-se a uma avaliação equivocada. À suposição de que somos, apenas, projetistas de formas, que não dispomos de conhecimentos técnicos consistentes e de desconhecemos fundamentos de projetos.
Essa presunção não é nova, contudo ganhou vulto recentemente.
Um brilhante engenheiro norteamericano, que se destacou como inventor de produtos arrojados, Richard Blackminster Fuller ( 1895- 1983) já nos depreciava há muitos anos atrás. Sugeria que ninguém se sente confiante voando num avião projetado por designers.
Essa é a idéia vulgarizada pelo senso comum. Somos vistos como profissionais que fazem coisas exóticas e sem importância, que não exigem muito empenho e capacidade técnica para projetar. Essa distorção precisa ser corrigida de forma criteriosa e convincente.
Contribuem para formar essa visão distorcida, revistas de celebridades e de costumes que associam o design a futilidades. Ao egocentrismo e às vaidades de personalidades despretensiosas que estão permanentemente em seu foco.
Estudantes e profissionais de desenho industrial ou design também se deixam seduzir por estas reportagens. Involuntariamente, reproduzem seus conceitos e suas banalidades, incorporando-as a um repertório de soluções que pouco ou nada favorecem a mudança desta visão distorcida do design.
Suplantando o senso comum, podemos mencionar que o desenho industrial ou design está contido em máquinas e instrumentos bastante eficientes, em ambientes hospitalares, em instituições de ensino, em equipamentos de proteção, em dispositivos para portadores de necessidades especiais, em artefatos úteis, indispensáveis no dia a dia. Faz-se presente em quase todos domicílios, tornando a vida humana mais amena, segura e confortável.
Por isto, convém reiterar que houve um grande equívoco na opção da Empresa Brasileira de Aeronáutica- EMBRAER.
Poderiam alegar que não havia desenhistas industriais ou designers especializados no desenvolvimento dos seus projetos aeronáuticos. É um argumento forte, mas também passível de réplica. Posto que, a integração à uma equipe que trabalha com produtos de alta complexidade tecnológica não é imediata. Pressupõe capacitação prévia, frequentemente realizada na própria empresa, no próprio ambiente de trabalho, juntamente com os integrantes da equipe. Esta diretriz adotada pela Toyota, no final do século XX, assimilada por todas corporações que realizam trabalhos complexos e especializados. Portanto, não nos parece convincente a posição adotada pelos gestores de projeto da EMBRAER.
Diante deste fato, convém reportar a trajetória de um publicitário, que se tornou um pioneiro e um dos mais proeminentes desenhistas industriais: Raimond Loewy(1893- 1986). Este francês, radicado nos Estados Unidos, em que pesem a excessiva valorização do estilismo e concepções teóricas bastante superficiais sobre o papel do design, foi responsável por soluções gráficas e plásticas, emblemáticas até os dias de hoje.
O contato com a indústria e o universo da produção automobilística, certamente adicionou novos conhecimentos e percepções a Raimonf Loewy. O deslocamento do escritório de publicidade para ambiente fabril, possivelmente tenha influído no direcionamento de seus projetos e nos rumos de sua vida profissional. Tenha credenciado Loewy, no final de sua carreira, a se tornar consultor de uma empresa que se notabilizou pelo esmero técnico e rigor na solução de qualquer um dos componentes que utiliza. Pela proficiência técnica e funcionalidade máxima de seus equipamentos. Uma empresa que não poderia se dar ao direito de adotar nenhuma margem de risco nos seus projetos, porque qualquer erro se mostraria fatal. Implicaria em acidentes de grande magnitude e retrocessos inestimáveis em suas prospecções. Como, lamentavelmente, ocorreu com o projetos aeroespacial da Challenger.
Pois é, essa empresa que trabalha com prospecção, concepção e produção de equipamentos aeroespaciais, encontrou na consultoria de um designer, por mérito, Raimond Loewy, soluções para alguns de seus problemas técnicos e formais. Atualmente dispõe de muitos designers atuando em diversas de suas equipes de projetos.
Para matar a curiosidade daqueles que ainda não identificaram esta empresa, falamos da National Aeronautics and Space Administration - NASA, que tem em seu cartel a EMBRAER, como única empresa brasileira habilitada a trabalhar em equipamentos, segundo suas especificações técnicas.
Outras corporações deste setor, a exemplo da Boeing, também se valem de projetos de desenho industrial ou design.
Portanto, seria prudente que os gestores de projetos da EMBRAER revisassem esta orientação, abrindo campo para que novos desenhistas industriais ou designers se capacitem e se mostrem aptos para responder as suas demandas.


EM DIA Periódico eletrônico da Universidade Federal de Campina Grande- 26 de abril de 2010

Um comentário:

  1. Acho que a atitude da Embraer foi uma passo para trás com relação ao design nacional, assiti um tempo atrás uma palestra do Marcelo Teixeira e ele contou da dificuldade dele impor a participação do designer no desenvolvimento do projetos da Embraer, mas achei que pelo retorno em vendas do Legacy e outros modelos, que conseguiram com o trabalho do Teixeira, essa questão de que o design é importante estava mais do que provado.

    É uma pena, realmente foi um passo para trás dado pela Embraer.

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