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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Simples para nos fazer livres

(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)

Sabe, nós designers devemos resistir em atuar como um maus publicitários. Nosso trabalho não pode se resumir a persuadir, despistar, diferenciar ou simular valor. É interessante observar como tal nociva intenção se manifesta com maior nitidez em categorias de produtos cujos concorrentes são bastante parecidos.

Águas engarrafadas são bons exemplos. Se fizermos uma visita ao supermercado, veremos na gôndola de águas minerais uma grande variedade de frascos. Todos com diferentes formas, cores, texturas e brilhos. Como se fosse possível, buscam nos convencer de que são águas mais puras e frescas do que a vizinha ao lado. Quanto ao rótulo, igualmente alegórico, notaremos que diversas informações são apresentadas, porém poucas são tão legíveis quanto a marca. Presença de gás e o nome da fonte também são informações geralmente destacadas. Porém, para quem não sabe, existem outras informações relevantes para os apreciadores deste produto: prazo de validade, concentração de sais minerais e classificação química (esta determina o modo como tal tipo de água irá agir no seu corpo). Todo fabricante é obrigado a fornecer estas informações no rótulo e de fato fornecem. No entanto, como prega a má publicidade, são dados que possuem pouco “apelo de comunicação” e a busca pela persuasão faz com que estas informações sejam entregues às letras minúsculas, tão ilegíveis.

Atualmente temos um grande envasador nacional que comete um crime sob o ponto de vista do design. Ele “inunda” o varejo com garrafas translucidas de cor azulada, rotuladas com um filme transparente cujas informações específicas são impressas também em azul.

Veja na imagem à esquerda como esta decisão de design tem a capacidade de nos distanciar das informações que procuramos. Apesar da informação estar lá presente, ela tem sua apresentação reduzida em prol do tão incompreendido “apelo visual”. A mensagem é clara, é como se a embalagem estivesse nos dizendo: “Pensar pra quê? Apenas me leve!”

Convenhamos, um enorme desrespeito ao nosso intelecto! Penso que o designer não deve impor a sua auto-expressão mas sim respeitar, e até mesmo incentivar, a dos que servem-se de seu trabalho.

Assim, concluo a exploração de mais uma das réplicas para a única pergunta: “Simples pra que?” Um design simples respeita nosso livre arbítrio, vem “Para fazer-nos livres, oferecendo autonomia para pensar e tomar decisões”, não nos censura e nem ludibria!

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Rafael Gatti é idealizador do projeto Design Simples.

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