(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)
“Conhecer o adversário é o primeiro passo para vencê-lo”, já ensinava Sun Tzu (estrategista chinês) há 2.500 anos. A boa notícia para os que almejam usar o design como instrumento para combater a devastação da natureza é a vantagem em poder visualizar um inimigo claro: o prematuro descarte das nossas coisas.
Quanto mais duráveis forem os nossos produtos, mais valor terá o nosso dinheiro e menos impacto sentirá o meio ambiente. Projetar para longos ciclos de vida é uma contribuição concreta do designer rumo a um futuro “sustentável”.
Porém enganam-se os que imaginam que a questão da obsolescência se restringe apenas à engenharia. Componentes bem projetados e materiais mais resistentes não serão capazes de conter o pior tipo de deterioração que um produto pode sofrer, aquela que acontece em nossa mente.
A idéia não é nova. Vance Packard, autor do livro “Estratégia do desperdício” apresentou em 1960, o conceito de “obsolescência por desejabilidade”. Esta sofisticada estratégia faz uso do talento dos designers para inocular o vírus da obsolescência planejada. A criação do “modelo anual de automóvel” é o exemplo mais emblemático e que continua mais atualizado do que nunca. Harley Earl, designer pioneiro no desenvolvimento dos “carros do ano”, percebeu a enorme vantagem em convencer os consumidores a levarem algo diferente ao invés de algo melhor.
“A Nissan é uma companhia com muita paixão, e os carros têm esse sentimento. Hoje pensamos em desenhos com formas mais dinâmicas e com espírito de inovação”. Recente declaração de Alfonso Albaisa, vice-presidente de design da Nissan, em reportagem na Folha por ocasião de um lançamento de um novo modelo de carro popular.
Devemos nos opor a esta distorcida visão que uns dizem atender ao mercado mas que também agrada parte da academia. Ambos parecem confundir, convenientemente, a responsabilidade estética com o mero formalismo sem critérios. Por todos os lados somos incentivados a atuar como irresponsáveis estilistas, recebendo em troca o mérito de contribuir para os resultados do cliente, para o aquecimento da economia, estimulando o consumo por impulso.
No final, como sempre, o planeta terá que pagar a conta: escassez de recursos naturais, lixo, contaminação do ar, água e solo. Para resistir a tudo isto proponho um design simples, com a proposta de “respeitar o planeta, reduzindo a poluição e evitando o desperdício”. Para coexistirmos de forma harmoniosa com a natureza, devemos entender o quão simples é seu design. Até a mais bela rosa possui um propósito, uma função e um papel bem definido no eco-sistema.
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Imagem retirada de uma antiga propaganda da Volkswagen com o seguinte slogan: “Before you look at their new ones, look at their old ones”.
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Esta é mais uma exploração das cinco possíveis réplicas para a única pergunta: “Simples pra quê?”, conheça outros textos relacionados:
Simples para aperfeiçoar a realidade
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Rafael Gatti é idealizador do projeto Design Simples.
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