Acabo de dispensar um estagiário. O rapaz, que está cursando o último semestre de Desenho Industrial numa das mais renomadas faculdades de São Paulo, foi contratado para uma das empresas onde atuo na Direção de Arte e, entre outras habilidades, opera como ninguém o AutoCad, SolidWorks e Mechanical Desktop. É justamente aí que está o problema.
Meu agora ex-estagiário, exímio desenhador na prancheta eletrônica, não foi capaz de me explicar como seria construído o rodapé de um móvel - seu projeto sugeria uma base sólida com 80 milímetros de espesssura, como se um pranchão de madeira desse tamanho fosse a coisa mais normal do mundo! Mas o pior foi constatar sua total ignorânca quando perguntei: Fulano, como vamos construir esse rodapé?E ele respondeu: Como assim??
Ao contratar um estagiário, a função da empresa é desenvolver o conteúdo que o mesmo aprendeu na faculdade e colocá-lo frente a situações reais do mercado de trabalho. Mas o que fazer se o conteúdo aprendido na escola é deficiente? Por que será que as escolas de design investem tanto tempo para ensinar o tal AutoCad e não preparam seus alunos para o questionamento e o desenvolvimento técnico? É lógico que o designer não precisa ser expert em materiais e processos, mas se seu trabalho for apenas desenvolver o conceito do produto para depois um projetista ou técnico “descascar o abacaxi” da produção, então é preciso mudar o conteúdo dos cursos e o próprio perfil profissional do Designer.
O mesmo acontece com egressos dos cursos de Design de Interiores: muito tempo gasto com o aprendizado do AutoCad e pouco exercício na produção artística. As escolas de Design Gráfico, por sua vez, formam excelentes operadores de Photoshop incapazes de estabelecer um diálogo com as artes. Óbviamente há escolas e Escolas (e felizmente ainda há instituições que perseguem a qualidade do ensino, estimulando a formação de um repertório de conteúdo e orientando os seus alunos a circular entre as áreas técnica e das artes).
Se de um lado algumas escolas de design (incluindo aí as faculdades de Desenho Industrial) negligenciam os conteúdos técnicos, de outro lado estão as escolas que alimentam demais o caráter autoral das criações. Nesses casos o estudante sai do curso com o título de “Deusigner”, pouco ou nada comprometido com a viabilidade técnica e econômica de seus projetos.
E finalmente analisando os cursos de Design sob a ótica de quem contrata, creio que existe uma outra questão grave neste cenário: a formação de professores. Quem ministra aulas no curso de Desenho Industrial são os bacharéis em Matemática, História e Filosofia, mais os profissionais a área (desenhistas industriais, arquitetos e engenheiros), que nem sempre estão preparados para dar aulas. Profissionais renomados e experientes não são garantia de uma boa aula uma vez que Designers, Arquitetos e Engenheiros não tiveram a disciplina Didática em seus cursos. A saída seria exigir que esses profissionais fizessem um Curso de Formação de Professores para só então abraçar a difícil missão de “ensinar design”.
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