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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Pé de boi

(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)

Pára-choques pintados de branco, apenas um velocímetro, ausência de frisos na carroceria e nas borrachas da janela, revestimento liso no forro do teto, nas portas e bancos, nenhum cromado no painel nem nos estribos, rodas básicas e calotas brancas.

Esta foi a versão mais básica, batizada Pé-de-Boi, do Volkswagen Sedan (o nosso conhecido Fusca), lançada no ano de 1966. Logo nota-se que seu compromisso era com custo, total racionalização e eficiência do produto.

Durante a década de 60 o governo brasileiro promovia linhas de crédito e incentivos fiscais para modelos de automóveis mais baratos e simplificados, com objetivo de acelerar a economia estimulando a venda de carros novos para o público de baixa renda, taxistas, frotistas e para a população rural do país. Daí nasceu o apelido “pé-de-boi”, já que o pequeno Volkswagen era capaz de enfrentar as áreas rurais de mais difícil acesso e se encontrava preparado para receber muito pouco cuidado.

Assim como a Volkswagen, durante aquela década outras montadoras interessadas nos incentivos governamentais também apresentaram modelos populares extremamente econômicos na utilização de itens supérfluos ou pouco essenciais. O Simca Profissional eliminou todos seus frisos cromados e tinha como público-alvo os taxistas. Seus parachoques foram pintados de cinza escuro e seus bancos foram revestidos em plástico. O DKW Vemag Pracinha era uma versão ainda mais “despida” do seu antecessor, sem carpete nem tampa no porta luvas. E ainda havia o Willys Teimoso com sua única lanterna traseira.

Recentemente, entre dezembro de 2008 e março deste ano, vigorou no país uma redução no IPI (imposto sobre produtos industrializados) que foi responsável por incentivar nossa produção industrial aquecendo a venda de automóveis novos e ajudando o país a enfrentar a última crise econômica mundial. Algo não muito diferente daquela época.

Tanto no passado quanto nos últimos anos, procuraram estimular a economia através do consumo de bens industrializados, com grande peso para o automóvel. No entanto, vemos na década de 60 um respeito maior com os recursos econômicos e, porque não, naturais do que no caso atual. Isso determinou diretamente o projeto daqueles veículos. Não se queria que os recursos econômicos destinados aos financiamentos pagassem peças cromadas e desnecessárias. Assim, muitos moradores do campo puderam ter acesso ao seu primeiro carro, simples e pequeno, porém capaz de cortar as mais difíceis estradas de terra. Já na última redução do IPI, nenhuma categoria de automóvel foi privada do benefício fiscal. Muitos consumidores foram convidados a trocar seu veículo por um novo, ou mesmo por um segundo, mais atualizado e distintivo. Os vendedores dos grandes veículos utilitários esportivos puderam se beneficiar destes recursos colocando ainda mais carros “fora de estrada” para rodar no caótico trânsito urbano.

E quanta diferença existe entre um Pé-de-Boi e um SUV…

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Rafael Gatti é idealizador do projeto Design Simples.

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