(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)
Números nos cercam por todos os lados e ajudam a organizar a populosa e complexa sociedade em que vivemos. Conforme surgem mais pessoas, documentos, endereços, linhas telefônicas, produtos, serviços ou qualquer nova necessidade de se inventariar algo, somos mais exigidos quanto aos números.
Em nosso dia-a-dia temos que memorizar desde o número da identidade até senhas de e-mail, anotar telefones, registros e até a frustrante tarefa de digitar códigos de barra, algo cada vez mais comum com o avanço dos meios de auto-atendimento bancário.
Se pararmos para pensar em toda essa diversidade, veremos que existem números mais fáceis de entender, memorizar, anotar ou até falar, do que outros. Às vezes o problema não é a quantidade de casas numéricas, mas sim a forma como tais números nos são apresentados. Uma determinada seqüencia de números pode ser dividida em grupos menores, separada por pontos, hífens ou barras, de modo a facilitar sua apreensão e torná-la mais inteligível possível.
Assim é possível dizer que existe design num número de CPF, por exemplo. Nele encontramos a preocupação com a eficiência de leitura e questões de cognição quando usa o hífen para isolar duas casas à direita. Portanto uma interface entre o dado numérico e seu observador.
Partindo da origem, na matemática pontos são utilizados para separar grupos de três casas da esquerda para a direita. Tal aglutinação indica sua leitura, assim como, por exemplo, em 1.234.567 onde se lê: um milhão, duzentos e trinta e quatro mil, quinhentos e sessenta e sete. Nota-se que números não inteiros são privados de pontos e sua leitura fica consideravelmente mais difícil como, por exemplo, em 0,123456 onde se lê: cento e vinte e três mil, quatrocentos e cinqüenta e seis milionésimos.
No telefone, convencionalmente, faz-se uso de chaves para indicar as duas casas que determinam o código DDD, em seguida, os oito dígitos restantes são agrupados em dois grupos de quatro casas separados por hífen. Por exemplo: (12) 3456-7890 Esta é uma configuração bastante difundida e conhecida. É tão intuitiva que faz com que raramente seja necessário indicar a palavra “fone” antes do número. No passado, quando ainda não existia o “web-site”, os anunciantes de televisão puderam se beneficiar da rapidez na leitura de seus telefones graças a este formato, economizando alguns segundos de exposição na tela. Visualizar o número de contato de um vendedor num comprimido classificado de jornal também fica mais fácil quando se adota este padrão de apresentação.
Documentos de identidade são problemas críticos, mais do qualquer outro, pois estes números nos acompanharão por toda a vida. No RG não existe uma quantidade pré-determinada de casas numéricas e os zeros à esquerda são desconsiderados, como no exemplo: 12.345.678-9 SSP-SP
Já no CPF, que é composto por 11 casas exatamente, considera-se os zeros à esquerda, como por exemplo: 001.234.567-89
A Carteira de Habilitação é um documento de identidade cada vez mais utilizado como alternativa ao RG e CPF, além de portar consigo ambos os números, é mais segura em relação às perdas e furtos. Porém suas vantagens terminam por aí. Copiar o número de uma CNH é um verdadeiro desafio para os olhos. São onze casas em seqüência, sem divisão alguma, como no exemplo: 11010987654321
Perder horas na fila do banco para pagar uma conta de luz é hoje uma opção. Os bancos têm realizados grandes investimentos nos canais de auto-atendimento o que tornou possível pagar contas em caixas automáticos ou até pela internet. Todo este esforço para simplificar a vida do cliente acaba em vão quando somos obrigados a digitar 48 casas agrupadas em apenas quatro campos. Um terror mesmo para os olhos mais habilidosos. A divisão em campos de 12 casas parece não ajudar muito, principalmente quando encontramos aquelas confusas seqüências de zeros consecutivos, bastante comuns e impossíveis de contar sem usar o dedo. Veja este exemplo: 123400000056 123456789012 123456789012 000123456789
Chaves de software, aquelas seqüências numéricas também extensas que temos que digitar quando instalamos algum programa em nosso computador, são bons exemplos de como facilitar a legibilidade de grandes números. Em alguns casos a seqüência é dividida em até cinco campos cujas últimas casas são isoladas por um hífen.
Por fim, os exemplos aqui apresentados nos mostram como boas interfaces são importantes e contribuem diretamente para a nossa qualidade de vida. Se já ficamos desconfortáveis quando precisamos ler um número de telefone todo aglutinado, sem separação entre casas (algo muito comum em agendas de celular, por exemplo), pense nos caixas de supermercado que precisam digitar manualmente extensos códigos de barras muitas vezes ao dia, ou ainda nos analistas cuja única função é comparar números de documentos.
Convido os leitores a citarem outros exemplos de casos tão frustrantes quanto estes. Situações que desprezam nossa cognição. Puras ausências de design, essencialmente interface.
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Rafael Gatti é idealizador do projetoDesign Simples.
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