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sábado, 16 de abril de 2011

A função estética nos banheiros acessíveis

(texto adaptado, originalmente publicado no Design Simples)

Quem já entrou, mesmo que por engano, em um banheiro equipado para deficientes físicos certamente deve ter notado a presença chamativa das barras metálicas, puxadores e antiderrapantes. Estruturas aparentes parecem acompanhar a maioria dos produtos voltados para a acessibilidade, das cadeiras de rodas às próteses ortopédicas. Apesar das vantagens práticas e de produção oferecidas pelo metal, por exemplo, nem sempre seu aspecto liso e frio resulta em uma interação estética e sensorial agradável a este usuário, tão carente de uma experiência mais acolhedora.

Desta forma, pode-se dizer que a maioria dos produtos voltados aos usuários com alguma deficiência ou mobilidade reduzida não contemplam a função estética com o mesmo peso reservado às funções práticas. Esta é uma disfunção que atinge a percepção do usuário sobre estes produtos e, portanto, um problema de design.

Um foco principal pode ser identificado: a falta de sintaxe. Isto significa que falta unidade entre as peças do conjunto formado pelos objetos básicos de um sanitário, tais como vasos, pias e boxes, em relação aos acessórios adaptados para promover a acessibilidade, tais como barras, puxadores, assentos dobráveis e pisos antiderrapantes. Observando seus materiais, superfícies, dimensões e proporções, nota-se claramente o descompasso formal entre estas duas categorias de objetos, o que nos transmite uma sensação de algo paliativo e improvisado.

Esta falta de consistência visual do conjunto de objetos que compõe um banheiro acessível traz consigo uma percepção negativa por parte do deficiente, pois acaba por evidenciar, por contraste, a instalação destes acessórios de apoio. Desta forma enfatiza-se o estado de dependência do seu usuário, sendo esta uma das principais justificativas para a resistência que ele próprio tem para adaptar seu banheiro.

No entanto, apesar das rígidas normas técnicas que especificam estes produtos, é possível oferecer soluções para instalações sanitárias um pouco mais apuradas esteticamente. Aqui entende-se estética como sendo o conjunto de decisões formais de um produto baseadas em critérios objetivos, portanto mais uma das funções que o design deve atender. Na imagem ao lado é possível observar como o tratamento superficial dos tubos metálicos atenua a impressão fria e impessoal do alumínio. Ainda pode-se dizer que a opção pela cor preta busca reduzir visualmente a escala desproporcional desta barra de apoio. Isto já é o suficiente para que o conjunto fique mais harmônico, consistente e neutro.

Veja como o vaso sanitário se torna mais leve quando suspenso. Além disso, uma dose extra de rigor faz com que não se note sua fixação na parede.

É possível! Basta encarar o desafio com seriedade e conhecer a fundo as possibilidades do design.

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Rafael Gatti é idealizador do projeto Design Simples.

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